O perceção que temos do tempo não é algo fixo: um segundo só é um segundo porque o definimos assim. E a atual perceção pode mudar, prevê-se, até 2030. Não ficará mais longo ou mais curto, mas será mais preciso.
Sem uma unidade de medida consensual e única não possível haver medição de algo. Durante quase 150 anos, os metrologistas – que estudam os sistemas de pesos e medidas e das medições – concordaram com as definições das unidades de medida, definidas pelo Bureau Internacional de Pesos e Medidas (BIPM). Atualmente, a agência regula as sete unidades básicas que gerem o tempo, comprimento, massa, corrente elétrica, temperatura, intensidade da luz e quantidade.
Em 2018, a organização aprovou novas definições para quilograma (massa), ampere (corrente), kelvin (temperatura) e mol (quantidade de substância). Agora, pretendem mudar também o tempo. O segundo foi definido em 1967 como “a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação correspondente à transição entre os dois níveis hiperfinos [o conjunto de efeitos que provocam certos deslocamentos e separações dos níveis de energia de átomos e moléculas] do estado fundamental do átomo de cesium-133”.
Esta reconfiguração do segundo surge porque existem relógios atómicos mais precisos e avançados, que conseguem rastrear comprimentos de ondas atómicas. Em junho, os metrologistas do BIPM terão uma lista de critérios que devem ser tidos em conta para definir a nova definição. Noël Dimarcq, físico e presidente do comité do BIPM para tempo e frequência, espera que a maioria da lista seja cumprida até 2026 e que a aprovação formal aconteça até 2030.
“Todas as unidades não são unidades autónomas, todas dependem do segundo”, disse Dimarcq. Isto significa que concetualmente, todos poderíamos expressar as outras unidades, como peso ou comprimento, em segundos. Por isso é que esta renovação de definição é tão importante.
“Os institutos de metrologia que trabalham para cumprir com estes critérios ainda precisam de atingir alguns dos marcos principais e, em seguida, temos que decidir em qual átomo (ou átomos) a nova definição será baseada. O progresso está a ser feito num ritmo acelerado, mas ainda não há um consenso sobre esta importante questão”, disse Liz Donley, chefe do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia da Divisão do Tempo e Frequência, à IFLScience.