A Guerra Russo-Finlandesa de 1939-1940 – também conhecida por “Guerra de Inverno” – decorreu num tempo em que ainda não havia NATO e em que os tratados eram assinados e desrespeitados ao sabor das situações concretas. Também ainda não existiam armas nucleares (apareceriam só, e de forma sinistra, meia dúzia de anos depois, quando os EUA lançaram bombas atómicas sobre o Japão) e, por isso, o pavor do que poderia vir a acontecer a seguir era relativo. Apesar destas diferenças de cenário, pelo seu paralelismo com a atualidade, vem hoje muito a propósito recordar este conflito.
Trata-se de um confronto que tem estado algo esquecido. Durante décadas, raramente era evocado nos círculos ligados à então União Soviética, ou “de esquerda” em sentido lato, por não ter sido propriamente uma página gloriosa. Por outro lado, ao coincidir no tempo com o desenrolar da II Guerra Mundial, constituiu-se como um conflito secundário e marginal, deslocado do quadro da agressão hitleriana na Europa, e portanto a posteriori facilmente ofuscado por esta. Finalmente, foi uma guerra que não implicou uma alteração radical e espetacular do mapa político da área em que se desenrolou – visto que a URSS não absorveu a Finlândia como pretendia – mas tão-somente um reajustamento das fronteiras entre os dois países. Mais importante do que isto foi, contudo, a transformação do país nórdico em “refém” de Moscovo.