O fraturamento hidráulico (em inglês, fracking) está novamente a dar que falar no Reino Unido. À medida que escalam os preços da energia na nação britânica – e não só – e sobe a preocupação europeia em reduzir a dependência energética russa, o Governo inglês diz estar a analisar “todas as opções” para acabar com as importações de energia vindas da Rússia.
Há quem defenda que o Reino Unido deve repensar a proibição do fraturamento hidráulico em Inglaterra, decretada nos finais de 2019, e aproveitar a grande quantidade de combustível no seu subsolo, extraindo-o através deste método. Já outros receiam pelo risco de atividade sísmica e pelas consequências ambientais associados ao fracking.
Mas afinal, em que consiste mesmo este método? Trata-se de uma técnica de extração de combustível líquido e/ou gasoso do subsolo. Em primeiro lugar, perfura-se o solo até uma profundidade geralmente entre dois e seis quilómetros, formando um poço que chega ao substrato rochoso.
Nesse poço, é injetada uma mistura de água, areia e químicos, a alta pressão, para alargar as fissuras nas formações de xisto ou folhelho do subsolo. Assim, liberta-se o petróleo e o gás natural aí presentes, permitindo a sua ascensão à superfície.
Uma pequena grande diferença
No verão de 2019, Preston New Road, em Lancashire (região do noroeste inglês), era o único local ativo onde se realizava fraturamento hidráulico em Inglaterra. Segundo o British Geological Survey, em agosto desse ano, detetaram-se mais de 120 tremores de terra na sequência das operações de fracking. Um deles foi o maior terramoto alguma vez registado naquela zona, com uma magnitude de 2,9 na Escala de Richter.
Perante estas consequências, o Governo exigiu que a Cuadrilla Resources, a empresa responsável pela exploração de Preston New Road, suspendesse imediatamente os trabalhos no local. Passados cerca de dois meses, a Cuadrilla viu anunciada uma moratória para o fracking, uma vez que à data não era possível “prever com exatidão a probabilidade ou a magnitude dos terramotos associados às operações de fraturamento” do subsolo, de acordo com um relatório da Autoridade do Petróleo e do Gás.
No mês passado, a autoridade britânica ordenou que a empresa energética tapasse e abandonasse permanentemente os dois poços de xisto em Lancashire. “Numa altura em que o Reino Unido está a gastar milhares de milhões de libras por ano a importar gás de todos os cantos do mundo, e em que os preços do gás para as famílias britânicas a passar dificuldades estão a disparar, o Governo escolheu este momento para nos pedir que tapemos e abandonemos os dois únicos poços de gás de xisto viáveis na Grã-Bretanha”, protestou o diretor executivo da empresa.
O jornal The Guardian referiu que, atualmente, a produção de gás no Reino Unido só consegue cobrir 48% da procura interna. De facto, essa produção tem vindo a diminuir, dado que as reservas de gás no país se estão a esgotar. Segundo a Cuadrilla, apenas 10% do gás existente na formação rochosa do substrato nortenho de Inglaterra seria suficiente para satisfazer as necessidades britânicas de gás durante 50 anos.
No entanto, este argumento da empresa é contestado por especialistas como Mike Bradshaw. O professor de Energia Global na Warwick Business School sublinha a diferença entre a quantidade de gás que se estima que haja no subsolo inglês e as reservas do recurso que efetivamente existem e cuja extração é economicamente viável. A verdadeira dimensão das reservas “não pode ser conhecida sem se realizarem perfurações exploratórias significativas, o que é improvável de acontecer”, disse Bradshaw.
Abaixo o fracking
Em Preston New Road, os protestos anti-fracking eram frequentes. Aliás, os ativistas que condenam o uso deste método prometeram já não dar tréguas às empresas energéticas caso o governo levante a moratória decretada em novembro de 2019.
Os manifestantes estão preocupados não só com a sua segurança (por causa do risco da atividade sísmica), mas também com o ambiente, já que o fraturamento hidráulico utiliza enormes quantidades de água, representando uma ameaça para a sustentabilidade deste recurso. É ainda possível, dizem, que haja contaminação das águas subterrâneas, o que pode constituir uma ameaça para a saúde dos humanos e dos animais.
Por outro lado, os protestantes acreditam que o fracking está a distrair as empresas e o Governo britânico de investirem nas energias renováveis, ao promover a contínua dependência dos combustíveis fósseis.
O fraturamento hidráulico é utilizado sobretudo nos Estados Unidos da América e no Canadá. Na Europa, o método é proibido em vários países, como Alemanha, França e Espanha.