Olga Smirnova, uma das bailarinas principais do mítico Teatro Bolshoi, em Moscovo, despediu-se da Rússia e mudou-se para o Dutch National Ballet, em Amesterdão. No comunicado publicado para justificar a decisão, a bailarina não podia ter sido mais clara: decidiu abandonar o Bolshoi devido à sua oposição inalienável à invasão da Ucrânia, perpetrada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Smirnova nasceu e cresceu na cidade russa de São Petersburgo, é filha de pais russos, mas tem um avô ucraniano. A bailarina menciona-o, aliás, no comunicado que inicialmente publicou na rede social Telegram e que, mais tarde, surgiu no site do Dutch National Ballet. Os laços familiares estão lá, mas Smirnova não fundamenta a sua oposição à guerra apenas nesse facto: “Continuamos a viver como se estivéssemos no século 20, embora estejamos formalmente no século 21. Num mundo moderno e iluminado, eu espero que as civilizações desenvolvidas usem apenas métodos pacíficos para resolver as suas disputas políticas”, escreve.
Smirnova entrou no Teatro Bolshoi em 2011, depois de ter feito a sua formação na academia de Vaganova, em São Petersburgo, e desde então tinha-se vindo a afirmar como uma das principais figuras da companhia de Moscovo. Um artigo publicado no The New York Times, em 2013, descreve-a como uma “raridade” e apelida os seus movimentos de “luminosamente reais e honestos.” Embora o Bolshoi seja uma das mais reputadas companhias de dança a nível mundial, Smirnova não consegui ignorar por mais tempo o revanchismo do Kremlin, confessando estar “envergonhada” com o seu país. E não foi a única. O solista brasileiro Victor Caixeta deixou o seu lugar no Mariinsky Ballet, em São Petersburgo, e vai juntar-se a Smirnova no elenco do Dutch National Ballet. O maestro russo Tugan Sokhiev, o italiano Jacopo Tissi, o brasileiro David Motta Soares e o inglês Xander Parish também já deixaram a Rússia.
“Sempre tive orgulho do talentoso povo russo, das nossas conquistas culturais e atléticas. Mas agora sinto que foi traçada uma linha que separa o antes e o depois. Dói saber que as pessoas estão a morrer, a perder os tetos em cima das suas cabeças ou a ser obrigadas a sair das suas casas”, lamenta Smirnova.
Os espetadores dos Países baixos vão ter oportunidade de a ver pela primeira vez em Amsterdão já no próximo dia 3 de abril, data da estreia do bailado Raymonda, encenado originalmente por Marius Petipa em 1898.