O tambor feito de giz que aparenta ter cerca de 5 mil anos foi descoberto há cerca de seis anos durante uma escavação levada cabo pela empresa independente Allen Archaeology na vila de Burton Agnes, em Yorkshire. Esta semana será apresentado pela primeira vez no Museu Britânico como parte da exposição “The World of Stonehenge”.
A descoberta foi alvo de múltiplas pesquisas e trabalhos de conservação e, apesar do nome, os arqueólogos não acreditam que se trate de um instrumento musical, mas antes de uma escultura. Num comunicado de imprensa do Museu Britânico, o objeto foi considerado “a peça de arte pré-histórica mais importante encontrada na Grã-Bretanha nos últimos 100 anos”.
Um dos aspetos que mais tem chamado a atenção sobre o tambor são as aparentes escrituras gravadas na sua superfície que incluem um conjunto de símbolos aos quais ainda não foram atribuídos significados concretos, mas que se assemelham a outros padrões encontrados na Escócia e Irlanda.
Essa linguagem poderá ser um indicativo de que comunidades espelhadas por toda a Grã-Bretanha e Irlanda mantiveram, em algum momento da história contacto, já que mostraram partilhar formas semelhantes de expressão criativa e, possivelmente, também crenças, como indica a colocação desses objetos em locais de enterros.
Em declarações à CNN, Jennifer Wexler, curadora do projeto para a exposição do Museu Britânico, explicou que a descoberta é ainda mais intrigante quando considerados outros três tambores semelhantes encontrados em 1889 na vila de Folkton a cerca de 24 km de Burton Agnes, onde foi encontrado o tambor em causa. O conjunto de tambores foi apelidado em nome da vila, sendo conhecidos como os tambores Folkton.
“Este tambor é particularmente intrigante, porque basicamente engloba um tipo de linguagem artística que vemos nas Ilhas Britânicas neste momento, e estamos a falar de 5 mil anos atrás”, disse Wexler.
O objeto foi descoberto perto dos esqueletos de três crianças com idades entre os 3 e 12 anos. Mark Allen, fundador da Allen Archaeology, explicou ao jornal Wasington Post que as crianças foram encontradas numa posição intrigante, “estavam abraçados” com o mais velho a segurar os dois mais novos, que, por sua vez, estavam de mãos dadas. Tudo parece indicar que os três terão morrido ao mesmo tempo, mas ainda serão feitas mais análises. “Quase que parece que algo dramático terá acontecido para os três terem sido enterrados daquela forma”, acrescenta.
A descoberta do tambor e dos restos mortais das três crianças ajudaram a perceber que “este estilo de tambores serão 500 anos mais velhos do que pensávamos, o que é incrível”, explica Wexler. A conclusão seguiu a “datação por carbono-14” ou datação por radiocarbono dos esqueletos.
Inicialmente, o museu acreditava que os tambores Folkton datariam entre 2500 aC e 2000 aC, mas a datação por radiocarbono das crianças revelou que estes instrumentos são ainda mais antigos, datando entre 3005 aC a 2890 aC, a mesma época da construção inicial do monumento britânico Stonehenge.
Wexler acredita, inclusive, que o tambor poderá ter sido um brinquedo das crianças e que outras versões do objeto poderiam existir noutros materiais menos resistentes como a madeira. Segundo o museu, o tambor terá sido encontrado acima do crânio da criança mais velha juntamente com uma bola de giz e um alfinete de osso polido. A razão para esta disposição continua a ser alvo de diferentes teorias, mas não há certezas do porquê. No tambor também era possível observar três buracos que talvez pudessem representar os três corpos das crianças, embora essa seja apenas uma suposição.
O museu considerou a peça um dos “objetos mais elaborados deste período encontrados em qualquer lugar na Grã-Bretanha e Irlanda”.