Madeleine Albright, a primeira mulher a chefiar a diplomacia dos Estados Unidos da América (1997-2001), padece de um contagiante otimismo. Aos 84 anos, continua a (tentar) influenciar todos os que a ouvem e leem. Num ensaio que assina na mais recente edição da revista Foreign Affairs, intitulado The Coming Democratic Revival (cujo título pode ser traduzido e reconvertido em “O Regresso da Vaga Democrática”), ela admite que, nos últimos anos, o mundo tem assistido a múltiplas derivas autoritárias, mas, argumenta, essa tendência será invertida porque “é um disparate acreditar na ideia de que os déspotas se preocupam com o bem-estar” das respetivas populações. No entender desta também antiga embaixadora nas Nações Unidas, figuras como Vladimir Putin (Rússia), Recep Tayyip Erdogan (Turquia), Viktor Orbán (Hungria) ou Daniel Ortega (Nicarágua) são incapazes de satisfazer as aspirações dos povos que governam.
O texto de Madeleine Albright não faz obviamente referência ao golpe de Estado da passada semana no Sudão – o sexto no continente africano desde o início do ano –, nem à sangrenta reconquista do poder pelos militares birmaneses, em fevereiro. Ou seja, a postura da diplomata norte-americana contrasta claramente com o pessimismo do secretário-geral da ONU, António Guterres, que, a pretexto da violência em Cartum, fala de uma “epidemia” autoritária nos cinco cantos do planeta.