Há 25 anos, não era considerado seguro uma mulher indiana viajar sozinha e, aquelas que o faziam, eram criticadas por desafiarem as normais socioculturais. No entanto, Sudha Mahalingam sempre acompanhou o marido nas viagens de trabalho, de forma a explorar o seu lado mais aventureiro.
Nas viagens que faziam juntos, o marido de Mahalingam, que nunca gostou de visitar os locais para onde se deslocava, pedia à mulher para visitar os pontos turísticos com um guia local. No entanto, com o tempo, Mahalingam começou a perceber que não gostava de viagens planeadas e organizadas porque não conseguia explorar o que realmente gostava. “As viagens organizadas são tão previsíveis”, explicou, citada pela CNN Travel, acrescentando que os guias locais apenas “mostram o que querem mostrar e não o que [os turistas] querem ver”.
Há vinte anos, quando decidiu deixar o seu emprego em jornalismo e passou dedicar-se à investigação energética, começou a receber convites para falar em conferências internacionais em países produtores de petróleo e, nessa altura, o mundo das viagens abriu-se para ela, passando, a partir daí, a explorar tudo sozinha, sem planos e de forma repentina.
Hoje, aos 70 anos, já visitou 66 países em seis continentes, e vai relatando as suas experiências no seu blogue Footloose Indian, tal como no seu livro “The Travel Gods Must be Crazy”.
Algumas experiências mais marcantes
Embora Mahalingam viaje, por vezes, com amigos, a maioria das suas viagens são sozinha e, muitas já foram as situações caricatas pelas quais passou: aterrou na República Checa sem um visto válido, enfrentou o desafio de encontrar comida vegetariana na China, foi acidentalmente detida num monumento no Irão e foi apanhada sem provas de vacinação contra a febre amarela no aeroporto de Nairobi, Quénia.
Mas uma das suas viagens favoritas foi para Madagáscar, em 2019, quando foi ver lémures. “Era um território absolutamente inexplorado, pouco turístico e tinha muito poucas instalações”, salienta Mahalingam, descrevendo que foi uma viagem difícil, da maneira que mais gosta.
Durante a visita ao país, Mahalingam fez uma viagem durante 3 dias, de barco, pelo rio Tsiribihina até Tsingy, na costa ocidental de Madagáscar, e, conta que “o barco não tinha casa de banho”. Além disso, acrescenta que “Tsingy está repleta de formações rochosas irregulares bastante íngremes e muito difíceis de escalar (…), mas depois de escalar para o outro lado, vê-se criaturas que não se veem noutros lugares em Madagáscar”.
Outra aventura que se destaca para Mahalingam foi a sua viagem ao Bornéu, no Sudeste Asiático, que foi muito desafiante para: “Havia animais rastejantes assustadores, por todo o lado, e montes de folhas de um metro de altura”, salienta
Mahalingam, no entanto, realça que viajar também a levou a aprender novas culturas, ensinou-a a acreditar nas pessoas e reforçou a sua fé na humanidade. Na Austrália, por exemplo, quando esteve com os borígenes (habitantes nativos do continente australiano), conheceu a sua forma de viver em harmonia com a natureza: “Eles têm um imenso apreço pela terra, respeitam todos os seres vivos e não pensam que os humanos sejam superiores”.
Outro dos exemplos em que vivenciou um grande choque cultural foi quando passou algum tempo com as tribos Bastar do estado Chhattisgarh, na Índia, uma vez que nesta tribo os rapazes e raparigas podem envolver-se antes do casamento e, aliás, era considerado um evento social. “Esse foi um modo de vida muito notável [uma vez que] não há qualquer proibição de experimentar diferentes parceiros e a estabelecer-se com o parceiro certo”, relatou, salientando que “na sociedade indiana, é desaprovado qualquer contacto entre os sexos, ao contrário daqui, em que eles respeitam o que é natural e dão-lhes tempo suficiente para florescer”.
Agora, ao entrar nos seus 70 anos, o desejo de viajar permanece, apesar das restrições globais impostas devido à pandemia de Covid-19. Nesta “nova” fase, Mahalingam tem-se concentrado mais em viagens terrestres. “Conduzi até Goa, que foi uma viagem de 16 horas [e], de lá, conduzi até Dandeli, e depois até Gokarna”, contou.
Apesar de continuar a fazer estas viagens mais perto, o que pretende é que, quando o mundo reabrir completamente, consiga navegar a bordo de um dos famosos iates Clipper – uma experiência dispendiosa, mas única na vida. “Há alguns anos, conheci a equipa Clipper em Belfast, na Irlanda do Norte, e enquanto ainda estou em forma e capaz, gostaria de fazer uma viagem a bordo de um iate Clipper à volta do mundo”, sublinhou.
Ainda com vontade de visitar a Colômbia, Patagónia, Chile e Argentina, Mahalingam acha que “mesmo que viaje para três países todos os anos durante os próximos 10 anos”, não vai completar a sua lista de sonho. “Há muita coisa”, concluiu.