Os telefones de 14 chefes de Estado e Governo e centenas de funcionários de governos poderão ter sido espiados pelo ‘software’ Pegasus, comercializado pela empresa israelita NSO Group, revelou hoje o jornal Washington Post, citado pela Amnistia Internacional (AI).
Segundo um comunicado da AI, o Washington Post, que faz parte do consórcio jornalístico que investiga o caso, revelou que os números de telefone de 14 chefes de Estado e de Governo foram incluídos numa lista como pessoas de interesse pelos clientes da empresa NSO Group.
Esta lista inclui o rei de Marrocos, Mohammed VI, o Presidente francês, Emmanuel Macron, o Presidente iraquiano, Barham Salih, o Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, e o primeiro-ministro egípcio, Mostafa Madbouly.
Também estão incluídos o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, o primeiro-ministro marroquino, Saad-Eddine El Ohtmani, o primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, o primeiro-ministro do Uganda, Ruhakana Rugunda, e o primeiro-ministro belga, Charles Michel.
A lista continha números de telefone de mais de 600 funcionários de Governos e políticos de 34 países.
A investigação jornalística sobre o ‘software’ Pegasus, desenvolvido e comercializado pela empresa israelita NSO Group, foi levada a cabo pelo consórcio Fobidden Stories.
“A revelação sem precedentes de que os telefones de pelo menos catorze chefes de Estado podem ter sido pirateados usando o ‘software’ Pegasus do NSO Group deve causar um arrepio na espinha dos líderes mundiais”, disse hoje a secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnes Callamard.
“Há muito tempo sabemos que ativistas e jornalistas são alvos desse tipo de pirataria nos telefones, mas está claro que mesmo aqueles nos níveis mais altos de poder não podem escapar da propagação sinistra do ‘spyware’ do NSO” disse.
“O NSO Group não se pode mais esconder atrás da alegação de que o seu ‘spyware’ é usado apenas para combater o crime – parece que o Pegasus também é o ‘software’ de escolha para aqueles que desejam espionar governos estrangeiros”, sublinhou ainda.
“As revelações contundentes do Projeto Pegasus ressaltam a necessidade urgente de uma regulamentação forte numa indústria de vigilância em que reina o oeste selvagem. Os Estados devem implementar uma moratória global sobre a exportação, venda, transferência e uso de equipamentos de vigilância até que uma estrutura regulatória robusta em conformidade com os direitos humanos esteja em vigor”, indicou Agnes Callamard.
Para a responsável da AI, o NSO Group “deve parar imediatamente de vender o seu equipamento a países com histórico de colocar defensores dos direitos humanos e jornalistas sob vigilância ilegal”.
“O Governo israelita também não deve autorizar licenças para a exportação da tecnologia de vigilância cibernética do NSO Group se houver um risco substancial de que possa ser usada para violações dos direitos humanos”, disse.
O ‘software’ do NSO Group tem sido usado para facilitar as violações dos direitos humanos em grande escala em todo o mundo, de acordo com a investigação que revelou haver 50.000 números de telefone de potenciais alvos de vigilância.
Nesta lista estão chefes de Estado, ativistas e jornalistas, incluindo a família do jornalista já falecido Jamal Khashoggi — assassinado dentro da embaixada da Arábia Saudita em 2018, em Istambul.
A investigação sobre o Pegasus é uma colaboração inovadora de mais de 80 jornalistas de 17 organizações dos meios de comunicação em 10 países coordenada pelo Forbidden Stories, um meio de comunicação sem fins lucrativos com sede em Paris, com o suporte técnico da Amnistia Internacional, que conduziu testes forenses de ponta em telemóveis para identificar rastros do ‘software’.
A NSO negou que Macron e Mohammed VI alguma vez tenham aparecido numa lista de alvos para clientes.
A empresa insiste que o seu ‘software’ se destina apenas ao uso contra terroristas e criminosos graves e reiterou que irá “investigar todas as alegações de uso indevido” e “tomar medidas enérgicas” quando tais alegações forem corretas.
O gigante israelita de vigilância NSO Group foi financiado por empresas como a Novalpina Capital e Francisco Partners, com vários investidores por trás delas.
CSR // ANP