A faixa de Gaza tem sido, nos últimos dias, o palco principal de um “espetáculo” que dura há sete décadas. O número de palestinianos mortos no conflito com Israel, que tem escalado desde a semana passada, aumentou esta segunda-feira, de acordo com o Ministério da Saúde do território, para 200, 59 dos quais crianças. No mesmo dia, as forças de defesa de Israel anunciaram que o comandante da jihad palestiniana Hassam Abu-Arbid foi morto, no decorrer de um ataque aéreo na zona Norte da Faixa de Gaza.
Apesar de ser um local muito falado, se se pesquisar por ele no Google Maps, as suas imagens de satélite aparecem desfocadas, assim como as de grande parte de Israel. Porquê? Há investigadores que andam a tentar decifrar este mistério e dizem ter a ver com a disponibilidade de fornecer imagens de alta ou fraca resolução.
À BBC, Samir, pesquisador que utiliza os dados fornecidos pelo Google Earth e outros programas gratuitos para encontrar e registar a destruição provocada pelos ataques resultantes deste conflito, diz que o facto de não se conseguir obter imagens de satélite de alta resolução de Israel e dos territórios palestinos atrapalha o seu trabalho. Esta investigação a partir de imagens de satélite é essencial para se conseguir identificar as localizações exatas dos mísseis lançados e dos prédios atingidos tanto na Cidade de Gaza como em Israel. No geral, ter acesso a estas imagens com alta resolução pode ajudar a perceber o que está, de facto, a acontecer em determinadas regiões e a dimensão dos estragos provocados por certos conflitos. Contudo, as imagens de satélite fornecidas pelo Google de Gaza e Israel têm tão pouca resolução que fica difícil distinguir-se, até, os carros.
“As imagens mais recentes do Google Earth destes locais são de 2016 e são um lixo. Fiz um zoom em algumas áreas aleatórias da zona rural de Síria e havia mais de 20 imagens registadas (desde 2016) de alta resolução”, escreveu, na sua conta de Twitter, o jornalista Aric Toler.
Mas não existem imagens de alta resolução desses locais?
Existem empresas de satélite que comercializam imagens de alta resolução de todos os sítios do mundo. Algumas estão já a disponibilizar imagens com resoluções boas – 40 cm e 50 cm – de Gaza e Israel, garantiram, mas os investigadores têm acesso apenas a programas gratuitos, tais como o Google Maps e Google Earth, que não fornecem imagens de tão boa qualidade.
Desde 1997 até ao ano passado, os EUA limitavam a qualidade das imagens de satélite de Israel que as empresas americanas podiam comercializar: estas empresas apenas podiam fornecer imagens de baixa resolução, ou seja, um carro seria fácil de identificar, mas qualquer objeto menor apareceria totalmente desfocado. Apesar de a lei, denonimada Kyl–Bingaman Amendment, abranger apenas este país, os territórios palestinos, em parte ocupados por Israel, acabaram por ser incluídos. Em julho de 2020, lei foi revogada e, neste momento, o governo dos EUA já permite que as empresas americanas forneçam imagens dessas regiões com uma qualidade muito maior.
O jornal britânico pediu esclarecimentos sobre o assunto à Google, que referiu não ter “grandes novidades” para dar neste momento, apesar de assegurar que as suas “imagens vêm de uma variedade de fornecedores” e que as imagens de satélite de alta resolução vão sendo publicadas à medida que vão sendo disponibilizadas. Já a Apple, que também prestou declarações ao jornal por ter aplicações que utilizam imagens de satélite – Apple Maps -, garantiu estar a trabalhar no sentido de atualizar os seus mapas para uma resolução maior (40 cm).