Durante a última reunião semanal do “Comité 1922”, formado por elementos do partido conservador sem assento no parlamento britânico, o primeiro-ministro Boris Johnson afirmou que o sucesso do plano de vacinação no Reino Unido se deve ao “capitalismo e à “ganância”. Apercebendo-se rapidamente do impacto que as suas palavras poderia ter, o chefe do Governo britânico apressou-se a emendar, contaram várias fontes à imprensa internacional: “Na verdade lamento ter dito isto, esqueçam que eu disse isto”.
Boris Johnson “deixou absolutamente claro que o que disse era uma piada – uma referência ao filme Wall Street” – no filme de Oliver Stone, Gordon Gekko profere a célebre frase: “A ganância, à falta de melhor palavra, é boa. A ganânia é uma coisa certa. A ganância funciona -, desvalorizou, em declarações à BBC, David TC Davies, um dos presentes na reunião, que decorreu por videochamada, na terça-feira, ideia corroborada por vários conservadores, com os argumentos de que Boris Johnson passou a reunião a “elogiar a AstraZeneca por não andar atrás do lucro” ou que estava, simplesmente, “a falar no seu típico modo de divagação”.
Mas a piada não caiu bem à oposição, com um porta-voz dos trabalhistas a comentar à CNN que “a ideia de que atos de egoísmo nos ajudaram a ultrapassar esta crise parece muito estranha”.
O ‘timing’ destas considerações coincide com a aplicação, por parte da Comissão Europeia, de um plano para apertar o controlo da exportação de vacinas produzidas no espaço europeu e que poderá incluir a possibilidade dos 27 travarem as entregas a países que não estão a exportar reciprocamente vacinas para a UE, ou seja, embargar as exportações das fábricas da AstraZeneca na UE para o Reino Unido até que a empresa cumpra o contrato com os Estados-membros.
De fora da estratégia de vacinação da UE, o Reino Unido tem apregoado uma velocidade de inoculação significativamente superior ao do resto da Europa.
Essa diferença de ritmos tem alimentado várias críticas à Agência Europeia do Medicamento (EMA), com vários países a ponderar incluir as vacinas desenvolvidas pela China e pela Rússia nos seus planos de vacinação – como já sucede, por exemplo, com a Hungria.