É considerado um produto agrícola comum, mas a recente explosão num armazém no porto de Beirute, no Líbano, demonstra bem o seu potencial mortífero. Com a fórmula química NH4NO3, trata-se de um sólido cristalino branco, altamente solúvel e natural, também vulgarmente apelidado de salitre. Os maiores depósitos deste material encontram-se no deserto do Atacama, no Chile, de onde foi extraído.
Mas, atualmente, quase a totalidade da substância química utilizada é sintética, produzida pela reação do amoníaco com ácido nítrico. E é predominantemente utilizado na agricultura como fertilizante, por causa do seu alto teor de nitrogénio. Na maioria das condições, é estável e barato de fabricar, sendo por isso uma alternativa popular, perante outras fontes bem mais caras.
Agora, aquele é também um componente-chave do explosivo industrial utilizado nas minas, pedreiras e construção civil, ao ser misturado com óleo combustível – o que o torna responsável por todos os explosivos de origem industrial utilizados nos EUA. Ou seja, embora por si só não seja considerado volátil ou perigoso, sob certas condições pode ser mortal. Daí que a maioria dos países tenha regulamentos apertados para controlar o seu armazenamento, de forma a garantir a sua segurança.
No rasto da destruição pelo NH4NO3
Assim, sem qualquer combustível, ou catalisador externo, só circunstâncias muito particulares transformam o nitrato de amónio, normalmente um composto estável, num explosivo. É verdade que é um material que produz calor à medida que se decompõe, de forma semelhante à compostagem. Mas se a quantidade de nitrato de amónio acumulada for muito grande, pode gerar calor suficiente para pegar fogo e, com isso, provocar uma imensa explosão.
É que, ao arder, o nitrato de amónio passa por alterações químicas que levam à produção de oxigénio, precisamente o elemento que um incêndio precisa para se alimentar. À medida que aquece, o químico pode fundir-se, criando um selo ou um tampão, deixando espaço para outros gases se formarem. No momento em que o ar quente já não tiver para onde se expandir, irá romper o tal selo, desencadeando então uma explosão.
Sendo de baixo custo, e de disponibilidade imediata, não espanta que o fertilizante tenha sido várias vezes utilizado para fazer bombas. Antes de mais, explode o detonador. Depois, a energia provocada faz com que o nitrato de amónio se vaporize, tornando-se um gás num ápice. As moléculas de amónio e de nitrato decompõem-se e, subitamente, forma-se uma grande quantidade de gás. Por fim, é a rápida libertação do oxigénio que incendeia o combustível.
Casos em que o nitrato de amónio foi usado para produzir bombas
1992 – O edifício Baltic Exchange na cidade de Londres foi atingido por uma bomba de uma tonelada de fertilizante plantada pelo IRA em Abril daquele ano. A explosão em St Mary Axe matou três pessoas, incluindo uma rapariga de 15 anos.
1993 – Um ano depois, foi Bishopsgate, na cidade de Londres, a ser atingido por uma bomba de fertilizante de uma tonelada, atentado reivindicado pelo IRA Provisório. Uma pessoa morreu e outras 40 ficaram feridas.
1995 – Foi a vez de Oklahoma City : uma bomba atingiu o Edifício Federal Alfred P Murrah e matou 168 pessoas. O atentado foi atribuído a Timothy McVeigh, executado por injeção letal em 2001.
1996 – Um enorme carro-bomba detonou sob a estação South Quay, em Londres. O dispositivo matou dois homens, e pôs assim fim a um cessar-fogo de 17 meses do IRA. Meses depois, o mesmo grupo terrorista atingiu o centro da cidade de Manchester com uma bomba que feriu mais de 200 pessoas. Foi a maior bomba a explodir na Grã-Bretanha desde a Segunda Guerra Mundial.