Acreditava-se, numa primeira fase, que o surto do novo coronavírus tinha surgido em novembro/ dezembro de 2019, em Wuhan. No entanto, acumulam-se as teorias que apontam para que o vírus já estivesse a circular na comunidade bem antes destas datas.
Um grupo de investigadores da Universidade de Medicina de Harvard, da Universidade de Saúde Pública de Boston e do Hospital Infantil de Boston, analisou as imagens de satélite dos parques de estacionamento dos hospitais de Wuhan e analisou as pesquisas sobre os sintomas da doença no motor de busca Baidu, entre os dias 9 de janeiro de 2018 a 30 de abril de 2020, e constatou um “aumento acentuado” na quantidade de veículos a partir de agosto de 2019 e um pico em dezembro do mesmo ano.
“Entre setembro e outubro de 2019, 5 dos 6 hospitais mostram o maior volume diário, coincidindo com níveis elevados de pesquisa no Baidu para as palavras “diarreia” e “tosse”. Embora as pesquisas por “diarreia” mostrem apenas uma procura elevada a partir do final de 2019, “tosse” mostra picos anuais que coincidem aproximadamente com a estação da gripe “, lê-se no relatório.
Os autores referem que também houve uma redução na ocupação hospitalar e das pesquisas relacionadas com os sintomas da doença depois do encerramento dos cuidados de saúde da cidade de Wuhan, a partir do dia 23 de janeiro de 2019.
Em contrapartida, “em agosto [de 2019], identificámos um aumento único na procura por “diarreia”, algo que não foi visto nas temporadas anteriores da gripe ou demonstrado nos dados de procura da palavra tosse”, afirmou a equipa.
Nesta primavera de 2020, “o movimento hospitalar começou a subir novamente. No final de maio de 2020, existiu um pequeno aumento das pesquisas do Baidu para “diarreia” e “tosse” em Wuhan”, escrevem os autores.
” Embora não possamos confirmar se o aumento do volume estava diretamente relacionado com o novo vírus, as nossas evidências corroboram outros trabalhos recentes que mostram que a emergência ocorreu antes da deteção do vírus no mercado em Wuhan. Estas conclusões também corroboram a hipótese de que o vírus surgiu naturalmente no sul da China e potencialmente já estava a circular na época”, concluem os investigadores.
A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, disse esta terça-feira, numa conferencia de imprensa, que não tinha visto o estudo, mas rejeitou as suas conclusões. “Acho absurdo, na verdade extremamente absurdo, tirar esse tipo de conclusão com base em observações superficiais, como o volume de tráfego”, disse.
Alguns cientistas apontaram algumas fraquezas no estudo de Harvard, que ainda não foi submetido à revisão pelos pares.