Através da plataforma Zoom, Barack Obama participou num evento da aliança My Brother’s Keeper, um programa da Fundação Obama, chamado “Reimaginando a atividade policial após a contínua violência policial”. Na conferencia, que foi a primeira vez que o primeiro presidente negro dos EUA apareceu em público depois da morte de George Floyd e depois de nove dias de protestos em todo o país, Obama reforçou a atitude dos jovens e destacou a importância das vidas dos jovens negros.
Em contraste com o seu sucessor na Casa Branca, Donald Trump, cujas expressões de solidariedade em relação a Floyd foram ofuscadas pelas duras críticas aos manifestantes, Obama, a certa altura, falou diretamente aos jovens negros: “Eu quero que vocês saibam que são importantes, eu quero que vocês saibam que as vossas vidas são importantes, que vossos sonhos são importantes, e quando eu vou para casa e vejo os rostos de minhas filhas, Sasha e Malia, e olho para meus sobrinhos e sobrinhas, vejo um potencial ilimitado que merece florescer e prosperar”. “E vocês devem aprender a cometer erros e a viver uma vida de alegria sem terem que se preocupar com o que acontecerá quando forem a uma loja, ou correr, ou se estiverem a conduzir pelas ruas ou a olhar para algum pássaro num parque.”
Obama ainda acrescentou: “Espero que vocês também se sintam esperançosos, mesmo com raiva, porque têm potencial para melhorar as coisas e ajudar a fazer com que todo o país sinta que algo tem de mudar. Vocês comunicam um sentido de urgência tão poderoso e transformador quanto qualquer outra coisa que eu tenha visto nos últimos anos.”
Os polícias que demonstraram solidariedade com os manifestantes também receberam uma homenagem do ex-presidente: “Quero reconhecer os profissionais que aplicam a lei e que partilham os mesmos objetivos de reimaginar a atividade policial”. Contudo, não foram apenas louvores. Obama defende que a polícia recisa de mudanças, incluindo a proibição de disparar contra veículos em movimento e alguma contenção na forma de atuar. “Apertar pescoços e estrangulamentos não é isso que fazemos”, disse ele. “Peço a todos os governadores deste país que revejam as suas políticas de uso da força com os membros da sua comunidade e se comprometam com as reformas”.
O atual presidente do EUA continua a adotar uma postura rígida sobre as manifestações e mantém a sua posição de que caso os protestos mais violentos não acalmem irá colocar os miltares nas ruas.
“Por mais trágicas que tenham sido essas últimas semanas, por mais difíceis, assustadoras e incertas que tenham sido, elas também foram uma oportunidade incrível para as pessoas despertarem para algumas dessas tendências subjacentes e oferecem uma oportunidade para nós todos trabalharmos juntos” continua Obama. “Quando às vezes me sinto desesperado, vejo o que está a acontecer com os jovens em todo o país, o talento, a voz e a sofisticação com que vocês estão a comportar-se, e isso faz-me sentir otimista. Isto faz-me sentir como se este país estivesse a melhorar. “
Obama declara ainda que espera que os protestos se traduzam em mudanças políticas, para garantir uma atividade policial mais segura e de maior confiança entre as comunidades e as autoridades. “Para trazer mudanças reais, temos que identificar o problema e deixar as pessoas que estão no poder desconfortáveis. Mas também temos que traduzir isso em soluções e leis práticas. ”
O ex-presidente também comparou os protestos anti-guerra, na década de 1960, com os de hoje, referindo que as manifestações atuais são “uma parte muito mais representativa da América nas ruas, protestando pacificamente” e que os participantes “se sentiram movidos a fazer algo por causa das injustiças”. “Isto não existia na década de 1960”, refere.
Playon Patrick, líder juvenil do My Brother’s Keeper de Columbus, Ohio, foi quem introduziu Obama no evento e fez uma leitura de um poema no final, concluindo: “América, a terra dos livres e lar dos corajosos. Lutamos e morremos por este mote, ao lado dos nossos irmãos brancos. Isso não faz de nós alguma coisa? Hoje à noite, a revolta é a língua do inédito.”