Um grupo de investigadores da Universidade de Lethbridge, no Canadá, em conjunto com as empresas Pathway RX e Swysh, ambas focadas no desenvolvimento de terapias com canábis, está a investigar o potencial de extratos específicos da canábis como tratamento adicional para a Covid-19.
“Há muita informação documentada sobre a canábis no cancro, canábis nas inflamações, ansiedade, obesidade e outras coisas”, garantiu Igor Kovalchuk, um dos investigadores da universidade e CEO da empresa Pathway RX, num artigo de divulgação do estudo publicado pela universidade. “Quando a Covid-19 começou, a Olga [Kovalchuk, também cientista] teve a ideia de rever os nossos dados e ver se podíamos utilizá-los para a Covid-19.”
Numa primeira fase, o grupo começou por examinar os recetores ACE2 – através dos quais o vírus entra no corpo humano – e desenvolveram um trabalho de pesquisa que aborda os efeitos que o canábis pode ter no combate ao vírus. Olga Kovalchuk explica que “o vírus tem a capacidade de se ligar ao recetor e puxá-lo para dentro da célula, quase como uma porta”.
Os autores do estudo dizem que, com base em estudos preliminares, os extratos anti-inflamatórios da canábis com alto CBD – uma substância psicoativa – podem alterar os níveis dos recetores ACE2 em vários tecidos, como na boca, nos pulmões e nas células intestinais. Estes extratos de canábis ajudam a reduzir a inflamação e a retardar o vírus.
“Imaginemos que a célula é um grande edifício”, compara Igor Kovalchuk. “Os extratos diminuem o número de portas no prédio em, digamos, 70%; isso significa que o nível de entrada será restrito. Portanto, temos mais hipóteses de o combater.”
As primeiras descobertas indicam que os extratos podem ser usados em ventiladores e produtos de higiene oral, e podem servir tanto para a aplicar clinicamente quanto para um tratamento em casa. Contudo, os autores confirmam que estes tipos de extratos não serão fáceis de encontrar. Nos últimos quatro anos, o casal Kovalchuk testou centenas de extratos, mas apenas uma pequena percentagem se mostrou realmente eficaz.
Os extratos anti-inflamatórios da canábis que os investigadores acreditam que pode ajudar no combate ao coronavírus contêm altas concentrações de CBD, mas níveis muito baixos de THC, para que os pacientes não sofram nenhum “efeito colateral”. O THC é o que dá o efeito de “pedrada”.
Apesar de tudo, os autores alertam que estes dados são ainda fundamentados em modelos de tecidos humanos e que a próxima fase deste projeto será realizar ensaios clínicos, para averiguar que efeitos positivos a canábis pode causar. Olga comenta que, “dada a atual situação epidemiológica e o rápido desenvolvimento desta, todas as oportunidades e saídas terapêuticas possíveis precisam de ser consideradas”.
O documento foi enviado para o Preprints – site dedicado à publicação de estudos e resultados de pesquisas e que recebe o feedback do público -, o que significa que a investigação ainda não foi publicada nem revista por outros cientistas.