A rede ferroviária mais antiga de toda a Ásia está temporariamente encerrada, pela primeira vez de 167 anos, depois do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, ter decretado a suspensão de todos os serviços de passageiros pelo menos até 14 de abril.
A medida, aprovada na última semana pelo executivo, prevê ainda a reabilitação de antigas composições que serão transformadas em câmaras de isolamento e unidades de recuperação de infetados que circularão de norte a sul do país já nas próximas semanas.
Neste momento, mais de 16 regiões na Índia estão a construir cerca de 5 mil enfermarias no interior de comboios desativados. No entanto, a Indian Railways, gigantesca empresa pública de caminhos-de-ferro, admite que em caso de necessidade deverão ser disponibilizas mais carruagens, podendo chegar às 20 mil unidades.
Cada composição tem a capacidade para acolher no máximo 16 camas, um gabinete médico e ainda um espaço destinado ao armazenamento de equipamentos técnicos necessários ao tratamento dos doentes infetados. A Indian Railways garante que estas composições reúnem todas as condições de higiene e cumprem com as medidas de distanciamento físico que a Covid-19 exige.
A empresa, uma das maiores do mundo no setor ferroviário e principal empregador na Índia, tem mais de 125 hospitais espalhados pelo país e uma já longa experiência na administração de serviços desta natureza. Desde 1991 que a Indian Railways chega a adultos e crianças de todo o país através do programa, Lifeline Express, destinado à prestação de cuidados de saúde médicos em consultórios e blocos operatórios móveis, montados sobre carris.
Nas próximas duas semanas, estas unidades estarão prontas para viajar entre os estados que registem o maior número de infetado, numa tentativa de evitar a sobrecarga do sistema de saúde. Esta medida procura assim compensar a falta de camas nos hospitais indianos, um problema que tem vindo a arrastar-se nos últimos anos.
Segundo dados da OCDE (relativos a 2017), o sistema de saúde na Índia tem apenas 0,5 camas por cada 1.000 habitantes. A maior oferta está concentrada nas grandes cidades, apesar de existirem profundas discrepâncias entre estados. Por exemplo, no Bihar, um estado do leste do país com quase um milhão de habitantes, apesenta 0,11 camas por cada mil pessoas, enquanto para o mesmo número de habitantes o estado de Bangala Ocidental tem disponíveis 2,5 camas por cada mil pessoas.
Apesar do número de infetados na Índia, o segundo país mais populoso do mundo, ser nesta altura ainda pouco preocupante: 4314 casos de contágio e 118 mortes, as autoridades sanitárias do país estão em alerta máximo, tendo em conta o histórico de propagação da doença. As próximas semanas serão determinantes, alertam as autoridades nacionais. Desde 25 de março que o país está em quarentena nacional ao mesmo tempo que entrou em vigor o encerramento das fronteiras e a proibição de entrada a passageiros estrangeiros.