No início desta semana o ministro da Economia e das Finanças de Moçambique, Adriano Maleiane, revelou que foi apresentada formalmente uma carta para pedir oficialmente ajuda ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O ministro revelou ainda, citado pela imprensa nacional, que as negociações com a instituição liderada por Kristalina Georgieva estão a correr bem.
O Governo de Filipe Nyusi, que foi reconduzido no cargo em outubro passado, está ainda a preparar o Orçamento do Estado para 2020, documento onde espera contar já com o apoio do FMI. Recorde-se que o Fundo retirou as linhas de ajuda a Moçambique quando o escândalo das Dívidas Ocultas veio a público, em 2016. Na altura, estava previsto um auxílio de mais de 280 milhões de dólares que acabou por nunca chegar.
Quando, em 2019, o país foi assolado por dois ciclones em apenas um mês e meio, a economia já estava a sofrer, e o país atravessava significativas dificuldades. Apesar de o investimento estrangeiro continuar a ser um dos motores da economia moçambicana, a escalada de violência no norte do país, na região de Cabo Delgado, tem estado a penalizar o avanço da exploração do Gás Natural, aquela que se acredita ser a ‘Galinha dos ovos de ouro’ do país para as próximas décadas. Ainda assim, as expetativas são elevadas para a criação de valor das unidades de exploração, que prevêem um investimento global na ordem dos 50 mil milhões de dólares e colocar Moçambique entre os principais produtores de gás natural liquefeito do mundo.
Está, aliás, a ser também planeado o nascimento de uma nova cidade junto às zonas de extração, onde deverão viver 150 mil pessoas – incluindo os atuais 15 mil habitantes da zona, a peníncula de Afungi. A ‘cidade do gás’ está orçamentada em, pelo menos, €1,5 milhões, revelaram as autoridades moçambicanas durante a 6.ª Cimeira do Gás de Moçambique que aconteceu em novembro.
Comportamento otimista
No início de fevereiro, o FMI já tinha sinalizado que estava satisfeito com a evolução da economia moçambicana após os ciclones, e que estava otimista em relação à sua recuperação. O subdiretor-geral do FMI, Tao Zhang, que visitou aquele país entre os dias 8 e 11 de fevereiro, revelou-se “satisfeito com o facto de a economia moçambicana se estar a recuperar dos efeitos dos ciclones tropicais Idai e Kenneth no ano passado. Para que o crescimento acelere ainda mais e se torne mais inclusivo, é importante que as políticas económicas permaneçam prudentes e as reformas continuem”, referiu o responsável numa nota libertada após os vários encontros com os responsáveis do Executivo.
Recorde-se que a instituição acabou por libertar alguma verba para responder ao período de emergência em Moçambique, após o Idai, para ajudar à recuperação da região da Beira, mas apesar de repetir que quer estreitar a cooperação com aquele país, tarda em apresentar uma data e uma modalidade em que o vá fazer.
Enquanto isso, cerca de 90 mil pessoas continuam a viver em campos de reassentamento, depois de os ciclones as terem deixado sem nada, e de ainda não haver uma alternativa aos espaços de emergência criados logo após a tempestade tropical.
O número de pessoas a precisar de ajuda tem, aliás, continuado a aumentar, tal como a VISÃO tem dado conta ao longo dos últimos meses. A estação das chuvas tem-se revelado inclemente com as populações da região centro, sobretudo, o que tem provocado a destruição de vários abrigos e habitações provisórias em que as famílias afetadas pelo Idai ainda estão a viver.
O anúncio do pedido de ajuda formal de Moçambique ao FMI pode ser o início de um novo ciclo, mas resta ainda saber em que moldes e a partir de quando a instituição vai começar a apoiar aquela economia africana. Até lá, os esforços das organizações humanitárias redobram-se para prestar às populações o auxílio que o Estado não tem conseguido prover, seja em termos de abrigo como de alimentação e recuperação das culturas, tão necessárias à reposição do nível alimentar das populações.