Os números que continuam a ser libertados pelas Organizações Não Governamentais para o Desenvolvimento (ONGD) e entidades como as Nações Unidas confirmam aquilo que tem a VISÃO tem estado a reportar durante as últimas semanas: quanto mais tempo passa desde que o Idai atingiu Moçambique, mais parecem aumentar as necessidades das populações.
O mais recente relatório do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), datado de 18 de dezembro, revelava que continua a haver 1,7 milhões de pessoas em insegurança alimentar em Moçambique, e que 67 500 crianças precisam de tratamento urgente para a malnutrição. Numa altura em que escasseiam os alimentos naquele país, as ajudas que chegam por parte das mais de 120 organizações humanitárias que estão no terreno revelam-se insuficientes para fazer face às necessidades que ainda se fazem sentir.
Campos sem coordenação
Na Beira, onde o ciclone Idai chegou a 14 de março de 2019, as regiões que mais sofrem são as que estão mais longe da cidade – as reconstruções demoram, os acessos são difíceis, os campos de reassentamento servem de abrigo a milhares de desalojados, e a alimentação é conseguida apenas através da ajuda humanitária.
São milhares de refeições distribuídos todos os dias, mas ainda assim não chega para todos os que começam a passar fome. Sem conseguirem que a terra dê ainda algum alimento, milhares de famílias pedem ajuda às autoridades que, apesar de reportadamente já terem feito alguns esforços, não estão a fazer o suficiente.
O mesmo relatório do OCHA salienta ainda que 20 dos 66 campos de reassentamento estão atualmente a precisar de equipas de gestão e coordenação, numa altura em que algumas ONGD começam a abandonar o terreno: o que acontecerá após semanas sem equipas que coordenem as operações em cada campo, ninguém sabe dizer com certeza.
Dois milhões de pessoas afetadas
Tal como a VISÃO escreveu recentemente, também a saúde mental está no topo das preocupação da ONU, que admite a falta de profissionais qualificados no terreno que consigam dar resposta a todas as necessidades da população. Recorde-se que cerca de 2 milhões de pessoas foram afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth, em março e abril deste ano, tendo já recebido milhões de euros em apoios e milhares de voluntários e profissionais que continuam a tentar recuperar as zonas mais afetadas.
Ainda assim, as necessidades de financiamento para conseguir suprir necessidades básicas estão muito longe de ser cumpridas. As cimeiras que se seguiram às tragédias têm tentado reunir o maior número de doações possível, mas à medida que o tempo vai passando, pouco acontece.
Ajuda continua a ser necessária
O Idai é considerado o maior desastre natural da História de Moçambique e mobilizou milhares de pessoas na fase de emergência. Portugal deu um contributo significativo através do envio de elementos militares e de ONG como a Médicos do Mundo, a Cruz Vermelha Portuguesa ou a Helpo. “O contributo de Portugal em ajuda humanitária correspondeu a um total de cerca de €4 milhões “, referia a embaixadora de Portugal em Moçambique em entrevista recente à VISÃO. “Bilateralmente, e além da ajuda humanitária que referi, financiámos no imediato uma intervenção rápida por parte de ONGDs que continuam presentes no terreno, em particular em Sofala que é uma das áreas prioritárias da Cooperação portuguesa com Moçambique, com quem mantemos um contato e articulação permanente”, continua a responsável, admitindo que há ainda muito a fazer.
Recentemente, o Programa Alimentar Mundial contra a fome (PAM) revelou que pretende duplicar o apoio que tem prestado às populações em Moçambique, para chegar a 1,2 milhões de pessoas por mês até março de 2020.