Do total de pessoas afetadas pelo ciclone Idai, que em março atingiu o centro da Beira, e pelas consequentes inundações, praticamente metade são crianças. A UNICEF tem estado no terreno desde que foi possível começar a dar apoio aos sobreviventes, mas o retrato que traça mais de oito meses depois está longe de ser animador, com milhares de crianças a necessitar ainda de assistência em termos de comida, medicamentos e profilaxia.
Segundo os dados mais recentes a que a VISÃO teve acesso, há ainda 334 mil crianças com menos de 5 anos a precisar de tratamento para malnutrição grave e mais de um milhão de pessoas sem acesso a fontes de água potável.
A organização internacional espera conseguir chegar à quase totalidade dos moçambicanos em risco até maio de 2020, fornecendo acesso a fontes seguras de água a 80% da população em risco, e garantindo cuidados de saúde a mais de 800 mil crianças. No mesmo sentido, a UNICEF continua a trabalhar para garantir o acesso a educação.
Teresa Couceiro, presidente da Fundação Gonçalo da Silveira, referia recentemente à VISÃO que o acesso à educação era uma das maiores urgências das populações afetadas pelo Idai, recordando que permite aos mais novos uma espécie de “regresso à normalidade” fundamental para a sensação de segurança e, naturalmente, para a sua formação. Revelando um pouco do que são os planos da própria Fundação na sua missão em Moçambique, a responsável salientou o facto de estarem “sempre em contato com a direção de educação” para levar a cabo o projeto de recuperação de uma escola na comunidade de Manga Mascarenhas, numa zona rural e extremamente desfavorecida.
Recentemente a FGS enviou para o terreno Marta Monteiro, que assume o cargo de gestora de operações na Beira para um projeto conjunto da FGS, da Fundação Fé e Cooperação e da organização VIDA – Voluntariado Internacional para o Desenvolvimento Africano que implica “dar condições dignas à própria escola e também à comunidade local. Queremos trabalhar com as famílias as questões de higiene, de saneamento básico, e de ensinar a cuidar e a preservar tudo o que são equipamentos”, realça Teresa Couceiro.
Apesar de não terem “fundos para montar equipas no terreno”, afirma a responsável, é preciso “pensar num projeto de integração”, pelo que a missão de Marta Monteiro será sobretudo coordenar equipas locais para que seja possível, com pouco mais de 100 mil euros, levar a cabo este projeto.
“Creio que no início do ano que vem vamos trabalhar a parte da sensibilização da saúde; depois outra equipa vai trabalhar processos educativos e afins; vamos fazer visitas ao longo do tempo nas várias áreas para trabalhar com a comunidade. Porque o que nos interessa é que haja um processo de transformação social. Porque se voltar a acontecer [uma tragédia destas], que a pessoa esteja mais preparada”, conclui Teresa Couceiro.
Para a responsável, com vasta experiência na área social e em Moçambique, o facto de “ainda faltar fazer tudo” não é propriamente uma surpresa. Aliás, em março, quando contactada pela VISÃO, a presidente da FGS já dizia que “diria que vão ser precisos cinco a seis anos para que a região consiga voltar a ter o mínimo. Não é voltar ao que era, é voltar a ter o mínimo”, lamenta. “Vai ser, verdadeiramente, um recomeçar de tudo. Que isto seja uma oportunidade para se pensar de raíz numa reconstrução que tenha as pessoas no centro” para evitar novas tragédias desta dimensão, pedia então.