A decisão foi tomada recentemente numa reunião da Operação Embondeiro: o complexo de saúde que inclui o Centro de Saúde, a Maternidade e a Unidade de Urgência de Macurungo, um dos bairros da Beira, vai ser entregue às autoridades moçambicanas no dia 15 de março de 2020, quando se assinala um ano da passagem do ciclone Idai por aquela região.
O projeto de reconstrução dos edifícios começou a ser executado em julho deste ano, depois de passado o período de emergência do ciclone Idai, e tem um custo estimado de 900 mil euros, segundo revelou fonte oficial da Cruz Vermelha Portugal (CVP) à VISÃO. Este valor pode, naturalmente, uma vez que há ainda alguns pormenores que não estão totalmente fechados, refere a mesma fonte.
O investimento foi possível graças aos donativos feitos por particulares e empresas durante, sobretudo, o período imediatamente posterior à passagem do ciclone. Ao todo, a CVP conseguiu angariar 2,6 milhões de euros para este projeto, sendo que até agora, segundo as contas libertadas pela instituição, já foram gastos cerca de 1,8 milhões.
Isto numa altura em que a UNICEF dá conta de que há ainda 500 mil pessoas a viver em casas destruídas ou bastante danificadas e em que o Instituto Nacional de Gestão de Catástrofes de Moçambique (INGC) revela que 1,1 milhões de pessoas não receberam qualquer assistência no que a abrigo diz respeito. Num relatório a que a VISÃO teve acesso, a UNICEF revela ainda que identificou mais de 780 mil crianças a precisar de ajuda, vítimas tanto do ciclone Idai quanto do Kenneth, que em abril atingiu a região norte do país. A malnutrição das crianças com menos de 5 anos e o acesso a água potável continuam a ser das principais preocupações da organização internacional.
No mesmo sentido, o INGC revelou também recentemente que mais de um milhão de pessoas continua a ter na água potável a sua principal prioridade. A necessidade de abrigo e o acesso a comida são as outras duas necessidades mais urgentes verificadas pelo Instituto.
O facto de a água e o saneamento serem fundamentais para prevenir questões de saúde torna mais relevante a permanência das associações humanitárias que não só apoiam as comunidades – sobretudo as mais desfavorecidas – mas também trabalham para capacitar os líderes das comunidades e os técnicos de saúde das regiões.
A Operação Embondeiro, responsável pela recuperação do Complexo de Saúde do Macurungo, foi montada em conjunto entre a Cruz Vermelha Portuguesa e a Médicos do Mundo Portugal (MdM), logo após o Idai ter tocado a costa moçambicana. Depois da primeira fase (a de emergência, que teve a duração de dois meses), em que foi possível enviar para Moçambique dois voos humanitários com equipas médicas, 70 toneladas de material para montar o Hospital de Campanha e a maternidade local – com o apoio da Sociedade Francisco Manuel dos Santos, do grupo Jerónimo Martins e da EuroAtlantic Airways – a operação Embondeiro passou às fases dois e três: reabilitação e reconstrução. Até agora, esclarece a CVP, a organização já fez chegar às áreas afetadas pela tempestade 220 toneladas de ajuda humanitária tanto por via aérea como marítima.
Em agosto deste ano a Médicos do Mundo Portugal (que deverá ter que abandonar o país por falta de verbas já no final do ano) desligou-se da operação, tal como estava previsto e depois de estar terminada a sua função no terreno junto das equipas da Cruz Vermelha Portuguesa, que estão agora totalmente dedicadas à reconstrução da unidade de saúde e à capacitação de técnicos de saúde locais. A instituição continua, no entanto, a gerir um campo com cerca de 2 000 desalojados em Nhamatanda.
Por parte da CVP, esclarece a mesma fonte oficial à VISÃO, seguirão para a Beira uma professora e uma aluna da Escola Superior de Saúde para continuarem as atividades de formação.
Entre março e agosto deste ano a Operação Embondeiro permitiu realizar mais de 3 mil consultas de saúde, cerca de 1 500 cirurgias e mais de 130 partos, revelam os documentos a que a VISÃO teve acesso e que a CVP disponibiliza na sua página na internet. Os mesmos documentos mostram que até agora as maiores tranches do dinheiro angariado foram alocadas a material clínico e medicamentos, ao hospital de campanha e à reconstrução da unidade de saúde – na fase de emergência, uma parte substancial dos donativos foi alocada a passagens aéreas que permitiram ter 20 elementos em permanência no terreno, em equipas rotativas a cada 25 dias.