“Estes homens valentes, Neil Armstrong e Edwin Aldrin, sabem que não há esperança para a sua recuperação. Mas também sabem que, graças ao seu sacrifício, há esperança para a humanidade”. Estas são algumas das palavras do discurso preparado para o falhanço da missão Apollo 11 que, pelos melhores motivos, nunca chegou a ser lido em público.
A missão foi dada como um grande sucesso. O Homem foi até à Lua e regressou à Terra em segurança. Contudo, as elevadas probabilidades de que várias partes da missão corressem mal levaram à criação de um discurso oficial alternativo, focado na perda dos astronautas e na forma de como o seu sacrifício traria uma nova esperança à humanidade.
Após a sua leitura, estaria preparada uma cerimónia sem precedentes para os astronautas, semelhante à dos marinheiros que perdem a vida no mar. O documento tinha também indicações para que o presidente Nixon telefonasse às viúvas dos astronautas antes de discursar.
O texto permaneceu escondido durante muitos anos, até ser revelado pelo seu autor, William Safire, redator dos discursos oficiais do presidente Nixon. Encontra-se agora disponível para consulta pública.
Nele pode ler-se: “O destino ordenou que os homens que foram explorar a Lua em paz lá permaneçam a descansar em paz. Estes homens valentes, Neil Armstrong e Edwin Aldrin, sabem que não há esperança para a sua recuperação. Mas também sabem que, graças ao seu sacrifício, há esperança para a humanidade”.
“Estes dois homens estão a abdicar das suas vidas em prol do objetivo mais nobre da humanidade: a busca pela verdade e pelo conhecimento. A sua perda será lamentada por familiares e amigos; será lamentada pela sua nação; será lamentada por todas as pessoas do mundo; será lamentada por uma Mãe Terra que ousou enviar dois dos seus filhos para o desconhecido. Na sua exploração, incitaram as pessoas do mundo a sentir-se unidas. No seu sacrifício, vincularam mais firmemente a irmandade entre os homens”.
“Nos tempos antigos, os homens olhavam para as estrelas e nas constelações viam os seus heróis. Nos tempos modernos, fazemos o mesmo, mas os nossos heróis são homens épicos de carne e osso. Outros seguirão o mesmo caminho e certamente encontrarão o caminho para casa. A pesquisa da humanidade não será cancelada. Mas estes homens foram os primeiros e permanecerão em primeiro lugar dos nossos corações”.
“Pois cada ser humano que olhe para a Lua nas noites que se avizinham irá saber que há um canto de outro mundo que será, para sempre, o Homem.”
O discurso deveria ser lido no caso de Neil Armstrong e Edwin “Buzz” Aldrin, após aterrarem na Lua, não conseguirem regressar à nave mãe, que flutuava ao longo da órbita lunar pronta para voltar à Terra. No caso de isso acontecer, o mais provável seria que os astronautas permanecessem vivos na superfície lunar, a mais de 384 mil quilómetros de casa e sem maneira de voltar.
No final, e após muitos momentos de ansiedade, a missão foi um sucesso: o Homem conseguiu explorar a Lua e regressar em segurança à Terra. Em vez do discurso de luto, Nixon partilhou com o mundo o enorme feito conseguido pela equipa espacial.
Logo após a aterragem na superfície lunar, o presidente fez uma das chamadas telefónicas mais icónicas da história da humanidade, a partir da Casa Branca:
“Olá, Neil e Buzz. Estou a falar com vocês por telefone a partir da Sala Oval na Casa Branca. Este é certamente o telefonema mais histórico já feito. Eu mal consigo dizer-vos o quão orgulhoso todos estamos com o que fizeram. Para cada americano, este deve ser o dia de maior orgulho das nossas vidas. E para as pessoas de todo o mundo, eu tenho certeza de que elas também partilham com os americanos o reconhecimento da enormidade deste feito.”
“Por causa do que vocês fizeram, os céus tornaram-se parte do mundo do Homem. E enquanto falam connosco a partir do Mar da Tranquilidade, inspiram-nos a redobrar os nossos esforços para trazer paz e tranquilidade à Terra. Por um momento inestimável em toda a história humana, todas as pessoas nesta Terra são verdadeiramente uma: uma no orgulho pelo que vocês fizeram e uma nas orações de que voltarão em segurança à Terra.”