Apenas seis semanas após a passagem do Idai, que destruiu o centro de Moçambique, o país viu-se novamente atingido pela força da natureza. Naquele que foi o primeiro ciclone a atingir o norte de Moçambique nos últimos 60 anos, segundo o instituto meteorológico francês, milhares de pessoas foram retiradas das suas casas para prevenir o elevado número de mortos que se registaram – que ainda se registam – à passagem do Idai. o Kenneth entrou em Moçambique na noite de quinta-feira, 25 de abril, e passou a tempestade tropical ao final do dia 26, segundo os institutos de meteorologia.
Numa região em que as casas são frágeis, muitas feitas de lamas e de terra, a prioridade foi levar as populações para os edifícios mais resistentes, como as escolas das várias comunidades. As autoridades moçambicanas deram conta de que cerca de 30 mil cidadãos foram retirados das suas casas por questões de segurança. Ventos que chegaram aos 280 km/hora mataram três pessoas nas Comores e destruíram 90% dos edifícios da ilha de Ibo, próxima da província de Cabo Delgado onde Kenneth entrou em terra. As autoridades acreditam que mais de 600 mil pessoas terão sido afetadas pelo fenómeno.
Já esta manhã de sábado, 27, a imprensa moçambicana dava conta de que algumas famílias da cidade de Pemba estavam a abandonar os centros de abrigo e a regressar às zonas de risco para avaliar os danos causados pelo Kenneth nas suas habitações e terrenos.
As previsões meteorológicas apontam ainda para a continuação de chuvas, perlo menos até amanhã, 28 de abril, sendo que a pluviusidade registada pode mesmo superar a do ciclone Idai. Os maiores receios, agora, são que os solos saturados e as chuvas constantes provoquem cheias que destruirão edifícios e culturas, e que dificultarão as operações de ajuda aos mais afetados.
Várias equipas de resgate estavam preparadas para atuar desde quarta-feira, quando o governo moçambicanos reuniu de emergência com o Instituto Nacional de Gestão de Catástrofes, alocando cerca de 1,3 milhões de euros a um fundo para que as populações do norte do país fossem imediatamente socorridas. Dados do Executivo moçambicano apontavam para que 2 500 famílias precisassem de ajuda urgente.
Esta é a primeira vez que Moçambique é atingido por dois ciclones durante a mesma estação, e um sinal claro de que as alterações climáticas deverão continuar a ter um impacto violento nos países mais suscetíveis a fenómenos naturais, o que tem levantado novamente a questão: devem os países desenvolvidos ser mais céleres a alocar recursos que ajudem imediatamente os países que mais sofrem com a mudança do clima, uma vez que são os principais responsáveis por ela?