O Aeroporto Internacional da Beira está transformado no quartel-general de todas as operações relacionadas com a devastação causada pelo ciclone Idai. O centro de operações ocupa mais de 500 metros quadrados. Há uma cacofonia de línguas diferentes em fundo. As paredes tornam-se pequenas para tantos mapas, cartazes e avisos.
Uma aparente confusão a que Pedro Matos está habituado. A sua missão anterior foi junto da população rohingya, uma minoria vítima de inúmeras violações dos Direitos Humanos em Myanmar.
O Coordenador de Emergência do Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas mudou-se para Moçambique há seis meses “porque era uma região calminha”…
Chegou à Beira uma semana antes do impacto do ciclone Idai porque as previsões meteorológicas já faziam antever que iria provocar estragos.
Durante cinco dias, as Nações Unidas e a Cosaca (um consórcio de organizações humanitárias) estiveram praticamente sozinhas na resposta ao cenário de catástrofe, juntamente com o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) moçambicano. Pedro Matos foi co-coordenador de toda a operação.
“Trinta horas depois da tragédia já estávamos a entregar comida”, recorda, impedindo, por momentos, as solicitações constantes. Ao fim de uma década nas Nações Unidas, ainda há cenários capazes de o surpreenderem. “Não imaginava que o ciclone tivesse esta dimensão”, confessa. “Como o espaço aéreo esteve fechado, e não tínhamos comunicações, só quando fizemos a primeira viagem de avião nos apercebemos da dimensão dos estragos”.
Na noite de sábado, 16, um dia depois de o Idai atingir o centro de Moçambique com violência, já se resgatavam pessoas com a ajuda de helicópteros.
“O oceano que foi criado em terra chegou a ter a dimensão do Luxemburgo [2500 quilómetros quadrados] e a atingir os 11 metros de profundidade”, contabiliza.
Calcula-se que mais de 1,5 milhões de pessoas ainda estejam à espera de auxílio – não de resgate, mas de assistência.
Até ao final da próxima semana, as Nações Unidas vão continuar em busca de zonas que permanecem isoladas desde a tempestade de 15 de março. No limite, algumas delas poderão ser identificadas apenas ao fim de três semanas da catástrofe.
Apesar do apoio internacional que tem vindo a chegar a Moçambique, Pedro Matos mantém o apelo: “Precisamos de tudo. São milhares de pessoas que ainda precisam de ajuda”.
O PAM tem alimentos suficientes, por agora. “Mas precisamos de abrigos e de água potável”, sublinha.
O responsável das Nações Unidas acredita que poderão ser necessários meia dúzia de anos para a região recuperar totalmente das cheias.
Apesar de Moçambique ter contrariado as suas expetativas de acalmia, garante não ter data de partida.
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