O australiano George Pell, 77 anos, é o clérigo com o cargo mais elevado de sempre no Vaticano a ser condenado pelo abuso sexual de menores. Afastado no final de 2018, o cardeal era conselheiro económico do papa Francisco e ministro da Economia do Vaticano.
A sentença será lida esta quarta-feira, 27, e os seus advogados já adiantaram que irão recorrer da condenação, adianta a BBC. Ainda segundo as agências, o clérigo, agora com 77 anos, mas com 55 no momento dos factos pelos quais foi condenado, enfrenta uma pena de prisão máxima de 50 anos.
O júri condenou-o por pedofilia, considerando-o culpado de ter abusado de dois rapazes de 13 anos, que pertenciam ao coro da igreja. Os dois foram apanhados a beber vinho sacramental numa sala nas traseiras da St. Patrick’s Cathedral, em Melbourne, quando Pell era arcebispo, tendo os abusos decorrido na sequência desse momento.
O tribunal, que apenas ouviu uma das vítimas, uma vez que a outra morreu há alguns anos, considerou provado que o cardeal forçou os rapazes a atos indecentes. O veredicto foi dado em dezembro, mas uma série de restrições impuseram que só agora fosse conhecido.
O caso estalou no verão de 2017, momento em que se conheceram as acusações feitas ao cardeal australiano: é o primeiro alto funcionário da cúria romana a ser acusado pedofilia. Ainda assim, George Pell sempre se declarou inocente das acusações.
Ora foi exatamente em dezembro que o Papa o afastou do seu círculo de conselheiros, assim como a cardeal Francisco Errázuriz, suspeito de encobrir atos pedófilos de um eclesiástico no Chile.
Os dois altos representantes da Igreja Católica integravam o Conselho de Cardeais, composto por nove conselheiros em representação de todos os continentes, também conhecido pela designação “C9”, e cuja missão é ajudar o Papa Francisco a reformar a administração do Vaticano.
A confirmação da condenação de Pell surge dias depois de ter terminado no Vaticano uma cimeira histórica organizada a pedido do papa Francisco para abordar a questão dos abusos sexuais por membros da igreja católica.
A cimeira, que juntou responsáveis de episcopados e institutos religiosos e na qual também se ouviram testemunhos de vítimas, terminou no domingo com a apresentação de oito passos para a luta contra esses abusos.
“Nenhum abuso deve jamais ser encoberto [como era habitual no passado] e subestimado, pois a cobertura dos abusos favorece a propagação do mal e eleva o nível do escândalo”, começou por referir o papa Francisco perante os 190 representantes da hierarquia religiosa e 114 presidentes ou vice-presidentes de conferências episcopais de todo o mundo que estiveram reunidos desde quinta-feira no Vaticano.