Em 2016, uma fotografia de uma criança afegã, vestida com a camisola do argentino Lionel Messi, feita de sacos de plástico do lixo, com o número dez e o nome do jogador escritos à mão, correu o mundo inteiro.
A história ficou tão conhecida que Murtaza Ahmadi, na altura com cinco anos, recebeu camisolas oficiais e uma bola assinada pelo próprio ídolo, que foi enviada até Ghazni, província a leste do Afeganistão, onde o menino vivia.
Meses depois, a criança também teve a oportunidade de assistir a um jogo privado do Barcelona no Qatar e de conhecer o capitão da equipa, o que a colocou, ainda mais, nas luzes da ribalta.

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Contudo, no final do ano passado, o nome da criança voltou a ser lido e ouvido, desta vez pelos piores motivos. A “fama” de Murtaza Ahmadi fez com a família do menino fosse obrigada a fugir do Afeganistão para o Paquistão, devido a uma carta com ameaças enviada pelos talibãs. Na carta, estava escrito que Murtaza Ahmadi devia aprender o Corão em vez de se preocupar com futebol.
À CNN, a mãe de Murtaza, Shafiqa, contou que a vida da família se tornou muito complicada a partir do momento em que o menino ficou conhecido. “Não só os talibãs como também outros grupos começaram a pensar que Messi podia ter-lhe oferecido muito dinheiro”, diz Shafiqa, que, devido às ameças constantes, teve, até, de retirar Murtaza da escola.
No momento em que a família regressava ao seu país, em novembro de 2018, a província de Ghazni estava a ser invadida pelos talibãs, o que fez com que mais de dois terços da população tivesse de fugir e procurar asilo noutro lugar.
“Os talibãs não nos permitiam jogar futebol nem sair de casa”, conta o menino, que foi obrigado a fugir com a mãe para Cabul, capital do Afeganistão, onde vive agora, juntamente com mais refugiados.
Antes da ofensiva dos talibãs, Ghazni era considerada a área mais segura e pacífica desde o início da guerra, em 2001.
Perigo constante
A situação da família de Murtaza é, ainda, mais complicada do que parece, já que eles pertencem à minoria hazara, um grupo de xiitas afegãos que são perseguidos violentamente pelos talibãs.
Neste momento, os hazaras temem que um possível acordo de paz entre os EUA e os talibãs possa dar mais força aos últimos e retirar as tropas norte-americanas do país.
Em janeiro, no Qatar, as duas partes estiveram em conversações durante uma semana, chegando a um princípio de acordo, em que os Talibãs se comprometem a não atuar em solo afegão e a acordar um cessar-fogo com o Afeganistão, aceitando negociar a paz com o governo de Ashraf Ghani. Em troca, os EUA prometem retirar completamente as suas tropas do país.
“Teria sido melhor se Murtaza nunca tivesse ficado conhecido”, desabafa a mãe do menino, que afirma que as suas vidas continuam em risco, não só na sua cidade de origem, como em Cabul, onde se encontram neste momento.
Shafiqa pretende, agora, sair com a família do Afeganistão, para que o menino “possa vir a ter um futuro melhor”.