Um refugiado detido há seis anos num campo da Papua Nova Guiné ganhou o maior prémio literário da Austrália, 125 mil dólares australianos (cerca de 80 mil euros).
A ironia é que o prémio é atribuído pelo país que o mantém detido.
Aliás, Behrouz Boochani, 35 anos, jornalista curdo-iraniano, ganhou dois galardões: prémio para a melhor obra de não fição e o prémio de literatura. O livro, No Friend But the Mountains: Writing from Manus Prison foi escrito com recurso ao telemóvel e passado para uma editora com a ajuda de um amigo. O editor que o publicou, em julho do ano passado, recebeu o manuscrito em fragmentos, através de mensagens de telemóvel.
Behrouz Boochani foi preso em 2013 quando tentava a sua sorte – chegar à Austrália para pedir asilo. A viagem de barco entre a Indonésia e o país dos cangurus não correu como planeado e foi detido por tentar entrar sem visto.
De acordo com a lei de imigração australiana, quem tentar chegar ao país por barco em busca de asilo é detido e levado para um campo fora do país – dizem que desta forma evitam as mortes no mar às mãos de traficantes. Foi o seu caso.

Está em Manu Island, na Papua Nova Guiné, há seis anos, juntamente com outros 600 refugiados.
O comité que lhe atribui o prémio refere que o livro é uma “voz de testemunha, um ato de sobrevivência. Um relato lírico em primeira mão. Um grito de resistência. Um retrato vívido através de cinco anos de encarceramento e exílio.”
Durante cinco anos esteve preso num campo para refugiados, altura em que escreveu o livro, e no último ano foi levado para outro local da ilha.
“Boochani produziu uma impressionante obra de arte e teoria crítica que escapa à simples descrição”, dizem os jurados do galardão. “É um estudo detalhado e crítico e uma descrição do que Boochani denomina como ‘Teoria da Prisão de Manus’ … Ele dá um novo entendimento tanto das ações da Austrália como da própria Austrália”.
O jornalista curdo escreveu no ano passado à CNN que a sua detenção é como uma “tomada de reféns aprovada pelo estado” australiano. “Somos pessoas esquecidas descartadas em ilhas esquecidas”, acrescentou.