Os governos australianos e da Papua-Nova Guiné têm de agir com urgência para salvar vidas na ilha da Manus, considera a Amnistia Internacional, que acaba de publicar, com o Conselho de Refugiados da Austrália, o relatório “Até quando? Os homens esquecidos da ilha de Manus”.
O documento realça que, além da indefinição acerca do tempo que permanecerão na ilha, os cerca de 600 refugiados e requerentes de asilo sofrem ainda o impacto dos cortes recentes nos serviços de saúde mental e aconselhamento,
Até agora, já se suicidaram três pessoas, “levadas pelo desespero de anos numa prisão a céu aberto” e, nos últimos dois meses, houve, pelo menos, mais cinco tentativas, lamenta Claire Mallinson, a responsável da Amnistia Internacional na Austrália.
Com o número de profissionais na área da saúde mental reduzido para metade ao longo do último ano, o caso não muda de figura quanto aos restantes cuidados de saúde – os refugiados e requerentes a asilo só podem contar com uma pequena clínica e com o hospital local, que, por sua vez, luta com graves faltas de pessoal e não tem qualquer intérprete.
Claire Mallinson, lembra que se a pressão internacional já teve alguns resultados positivos no caso de outro centro de detenção, o de Nauru, com algumas crianças a serem transportadas para a Austrália para receberem tratamento, no caso dos homens da ilha de Manus, o caso é igualmente urgente.
No relatório, Joyce Chia, do Conselho de Refugiados da Austrália, recorda o caso de Hamid Khazaei, que morreu de sépsis na sequência de um corte no pé e de um “catálogo de atrasos e erros”.
Quando não é possível o tratamento na ilha de Manus, o doente é transferido para Port Moresby, a capital e maior cidade da Papua-Nova Guiné, mas depara-se igualmente com a falta de tratamento especializado. A transferência para a Austrália representa, segundo o documento, a melhor hipótese de recuperação, mas isso só aconteceu nove vezes nos últimos 18 anos.
Dados do último mês de outubro apontam para a transferência para Port Moresby de 70 casos de pessoas com doenças graves, sem que tenham sido registadas melhoras significativas ao fim de seis meses.
As duas organizações apelam ao governo australiano que assegure, rapidamente, que os que precisam de acesso a cuidados de saúde mental ou não estão seguros (há casos de agressões e ameaças de morte) sejam recebidos na Austrália ou num terceiro país.
“O Governo australiano quer que esqueçamos os homens de Manus. Têm feito tudo o que podem para suprimir a verdade, mas estes homens corajosos continuam a falar. São responsabilidade da Austrália e o que lhes acontece continua a ser uma vergonha para a Austrália”, concluem.