É um dos maiores mistérios de sempre da aviação mundial e, a cada semana que passa sobre o desaparecimento do Boeing 777 da Malaysia Airlines, que fazia a ligação entre Kuala Lumpur e Pequim, parecem surgir novas teorias sobre o que pode ter sucedido. Passaram quase quatro anos sobre o momento em que, a 8 de março de 2014, o voo MH370, com 239 pessoas a bordo, deixou de ser detetado nos radares. Foram lançadas três centenas de missões internacionais, seguidas milhares de pistas e investidos mais de 150 milhões de euros nas buscas mas, apesar de toda a tecnologia disponível no mundo, não foi possível encontrar mais do que meia dúzia de pedaços de fuselagem, na costa de Moçambique e da África do Sul, bem como nas ilhas Maurícias e da Reunião (e, mesmo assim, sem que possa haver uma certeza inabalável sobre a sua origem).
A equipa de investigação internacional criada para investigar o acidente e supervisionar as buscas, financiada pelos governos da Malásia, Austrália e China, entregou o seu relatório final em outubro de 2017 e, basicamente, atirou a toalha ao chão. As buscas foram oficialmente suspensas. Da imensa área analisada, entre a costa australiana e a costa africana, restaria ver com maior detalhe uma faixa com 25 mil km2 quadrados. Valeria a pena?
A empresa texana Ocean Infinity entendeu que sim e convenceu o governo da Malásia a financiar este último esforço das pesquisas – mas em condições especiais. Se tiver sucesso, a empresa poderá receber um prémio de 70 milhões de dólares; se fracassar, não receberá nada. A liderar esta missão de 90 dias está o caçador de tesouros David Mearns, que estará convicto de poder encontrar o avião no fundo do mar. Mas há quem acuse o britânico de estar apenas interessado em procurar outros destroços naquelas águas (nomeadamente de navios com tesouros a bordo) e as suspeitas adensaram-se quando, esta semana, o navio Seabed Constructor desapareceu dos radares durante três dias.
A 21 de janeiro, o AIS (Automated Identification System) do navio deixou de funcionar, deixando num frenesim centenas de investigadores e curiosos de todo o mundo que seguem, desde sempre, cada minuto das buscas do malogrado MH370. Durante 80 horas, ninguém conseguia saber do Seabed Constructor e as redes sociais fervilhavam com inúmeras teorias da conspiração. Desapareceu como? Haverá ali um novo “triângulo das Bermudas”? As últimas coordenadas conhecidas (35,6 ° S 92,8 ° E), logo lançaram outras suspeitas: será que David Mearns resolveu ir procurar um navio ali bem próximo, o S.V Inca, naufragado em 1911, com carga preciosa vinda do Peru?
David Mearns é dono de uma empresa de caça ao tesouro, a Blue Water Recoveries, e presença frequente nas manchetes dos jornais. Há dois anos, anunciou ter identificado no fundo do mar do Sultanato de Omã vestígios do que seria o navio mais antigo da época dos Descobrimentos alguma vez encontrado: a Esmeralda, uma das duas naus capitaneadas pelos irmãos Brás e Vicente Sodré, tios de Vasco da Gama, que partiram de Lisboa em 1502, na chamada 2ª Armada da Índia. “Esta nau tem uma importância enorme por ser uma das oito embarcações do século XVI localizadas em todo o mundo e por ser também a mais antiga de que há conhecimento a naufragar no Índico”, explicou David Mearns à VISÃO.
Os trabalhos de prospeção prolongaram-se por dois anos, tendo sido recuperados quase três mil artefactos do local, entre eles um sino de bronze, datado de 1498, balas de canhão com as iniciais VS (o que poderá representar o nome do capitão, Vicente Sodré), um disco de bronze com as armas de D. Manuel I e a esfera armilar, pedaços de cerâmica portuguesa do início do século XVI, sete cruzados de ouro da época e um conglomerado de moedas de prata que escondiam um tesouro: um “índio”, de que até hoje se conhecia apenas um exemplar, em exposição no Museu Nacional brasileiro, no Rio de Janeiro.
Agora, depois de duas semanas no mar – e dos tais três dias sem que o seu paradeiro fosse conhecido – o navio Seabed Constructor atracou esta quinta-feira, 8, no porto de Henderson, a sul de Perth, na Austrália, estando previsto o seu regresso aos trabalhos de prospeção no próximo dia 12 de fevereiro. Bombardeados com perguntas pelos jornalistas, os representantes da empresa texana limitaram-se a confirmar que o comandante decidira desligar o AIS do navio para que não fosse lançado “alarme desnecessário”, uma vez que estavam parados e a realizar mergulhos numa área que foi apontada por um estudo da Commonwealth Scientific and Industrial Research Organization como sendo “a mais provável” para a localização do avião – que, neste caso, estaria íntegro, no fundo do mar, com os corpos dos passageiros no seu interior, o que permitiria não apenas desfazer o mistério em torno do voo MH370 mas também recuperar os corpos e fazer as suas cerimónias fúnebres. Esse seria, para os familiares das vítimas, o maior tesouro.