O rei de Espanha, Felipe VI, acusou hoje “determinadas autoridades” da Catalunha de “deslealdade” institucional e de terem uma “conduta irresponsável”, totalmente à margem do direito e da democracia.
Numa mensagem transmitida pela televisão, Felipe VI explicou que tinha decidido dirigir-se “diretamente aos espanhóis” porque se estão a “viver momentos muito graves para a vida democrática” do país.
A Espanha vive uma crise institucional depois de as autoridades da Comunidade Autónoma da Catalunha terem organizado no último domingo um referendo de autodeterminação da região que foi considerado ilegal pelo Estado espanhol.
“Com a sua conduta irresponsável, eles [as autoridades catalãs] podem mesmo colocar em perigo a estabilidade da Catalunha e de toda a Espanha”, sublinhou Felipe IV na mensagem solene a partir do Palácio Real da Zarzuela.
O rei adverte que, perante a situação “de extrema gravidade” na Catalunha, os “legítimos poderes do Estado” devem assegurar “a ordem constitucional”, a continuação do Estado de direito e o autogoverno da Catalunha baseado na Constituição de Espanha e no seu Estatuto de Autonomia.
“Essas autoridades [catalãs], de uma forma clara e rotunda, situaram-se totalmente à margem do direito e da democracia”, considerou Felipe VI, que recordou o compromisso da Casa Real com a unidade de Espanha.
O rei reconheceu que Espanha está a atravessar momentos “muito difíceis”, mas terminou a mensagem ao país com uma palavra de tranquilidade a todos os espanhóis e, em particular, aos catalães a quem assegurou que não estão sós: “São momentos difíceis, mas vamos superá-los”.
O governo regional (Generalitat) anunciou na madrugada de segunda-feira que 90% dos catalães votaram a favor da independência no referendo, tendo exercido o direito de voto 42 por cento dos 5,3 milhões de eleitores.
A consulta popular foi convocada pela Generalitat, dominada pelos separatistas, tendo o Estado espanhol, nomeadamente o Tribunal Constitucional, declarado que a consulta era ilegal.
A consulta foi boicotada pelos movimentos e partidos que não apoiam a separação da Catalunha de Espanha, apesar de muitos deles também defenderem a realização de uma consulta popular na região, mas feita de acordo com as regras aceites por todos e não apenas de uma das partes.
A votação de domingo foi marcada pela intervenção da polícia espanhola, que tentou encerrar alguns centros eleitorais, uma ação que teve momentos de grande violência que passaram nas televisões de todo o mundo.
Os resultados finais do referendo são impossíveis de certificar com as garantias normais para consultas deste tipo e não têm a homologação internacional.
O chefe do Governo catalão, Carles Puigdemont, vai nos próximos dias levar os resultados da consulta ao parlamento regional para decidir se declara a independência da região, que é uma das 17 comunidades autónomas espanholas.
O dia de hoje na Catalunha foi marcado por uma greve geral e manifestações de centenas de milhares de pessoas nas ruas de Barcelona contra a violência utilizada no domingo pelas forças policiais.