A NFL, liga de futebol americano, anunciou esta semana que a equipa dos Oakland Raiders vai mudar de casa – para outra localidade. Sem um acordo para a reforma de estádio, o clube decidiu trocar a cidade californiana por Las Vegas. A prática é comum nos desportos nos EUA, mas causam distorções curiosas, já que geralmente os nomes das equipas são criados para exaltar as comunidades onde foram criadas.
Imagine o FC Porto a ter Coimbra como casa, ou o Benfica a mudar-se para o Porto, ou o Sporting a sedear-se em Faro. É o que ocorre com os Los Angeles Lakers. A cidade de Los Angeles é famosa por secas históricas, mas a principal equipa a jogar nela exalta os lagos (a origem do nome Lakers). Tudo porque o clube nasceu em Minnesota, estado conhecido como “terra dos 10 mil lagos”. A equipa só foi para a Costa Oeste dos EUA em 1960, e desde então transformou-se numa das mais importantes do basquetebol americano. Já ganhou 11 títulos desde que foi para a Cidade dos Anjos.
Os Clippers, que jogam em Los Angeles desde 1984, também têm um nome que não faz sentido no contexto da cidade – tem origem nos barcos à vela que eram vistos no porto de San Diego, cidade original dos iates Clippers, no século XIX. Los Angeles nunca foi conhecida por ser um centro portuário.
Um caso semelhante ocorre no Utah. O estado não costuma ser sinónimo de música nos EUA. Mesmo assim, a equipa de basquetebol local é batizada Utah Jazz. Tudo porque os Jazz são originalmente de New Orleans, local de nascimento do famoso estilo musical, mas mudaramde cidade em 1980.
No futebol americano, nenhuma mudança causou tanta estranheza como no basquetebol, mas as alterações de cidade também não são incomuns. Os próprios Raiders já vão na sua terceira mudança. A equipa é nativa de Oakland, mas mudou-se para Los Angeles em 1982. Em 1994, voltou para a cidade natal, e agora volta a abandoná-la.
Os motivos para essas mudanças costumam ser financeiros. As equipas usam possibilidade de trocar de cidade para pressionar os governos locais para suportar financeiramente remodelações dos estádios ou mesmo novas construções de recintos maiores e mais modernos. Os Raiders, por exemplo, decidiram sair da Califórnia depois de Las Vegas aceitar investir €690 milhões na construção de um novo palco para os jogos da equipa.
Los Angeles costuma ser o alvo favorito das equipas. A cidade é a segunda maior dos EUA, as principais redes televisas têm aqui estúdios e o potencial de mercado consumidor é enorme pelo facto de o estado da Califórnia ter o maior PIB dos EUA. Nos últimos dois anos, os St. Louis Ram (em 2016) e os San Diego Chargers (em 2017) decidiram mudar-se para Los Angeles. Os clubes foram seduzidos por um estádio (partilhado) de €2,4 mil milhões, com previsão de abertura para 2019.
O caso mais famoso na história americana é o da equipa de basebol do Brooklyn Dodgers. A equipa era um marco cultural do bairro de Nova Iorque que a batizava, mas zangas do dono com os políticos da cidade na busca de um novo estádio motivaram a sua mudança para Los Angeles em 1958. Com isso, tanto Brooklyn como Dodgers perderam o sentido – dodgers (“pessoas que se desviam”) vem dos anos 30, quando os elétricos dominavam o bairro e os moradores tinham de se desviar constantemente.