O email que chegou à caixa de Susan Fowler não deixava grande espaço à imaginação: o supervisor explicava-lhe que estava numa relação aberta, mas que a sua mulher estava a ter mais sucesso em encontrar parceiros, e que ele queria equilibrar o jogo. Susan, engenheira, apresentou imediatamente queixa nos recursos humanos. E a resposta dificilmente podia ter sido pior: ou ela mudava de equipa ou que se preparasse para uma avaliação negativa (feita por ele, obviamente). De resto, mais não poderia fazer, uma vez que o supervisor era um profissional com “elevado desempenho”. Isto apesar de o homem já ter sido alvo de outras acusações semelhantes.
Indignada, Susan Fowler acabou por sair da empresa. E publicou este domingo no seu blogue pessoal uma descrição sobre essa e outras práticas agressivas dentro da companhia americana, e como as denúncias caíam invariavelmente em saco roto. Na sua crítica, a antiga funcionária da sede em São Francisco, na Califórnia, explica como o ambiente é particularmente hostil para as mulheres, que acabam por se demitir ou pedir transferência para outras organizações. No caso de Susan, a transferência foi bloqueada pela empresa numa tentativa de manter as estatísticas sobre o número de mulheres empregadas. Uma situação particularmente sensível, dado que o bloqueio, através de uma redução na avaliação interna, lhe custou a bolsa universitária de que dependia.
Além das dificuldades criadas às mulheres, o sistema interno de organização da Uber assemelhava-se a uma “guerra política como na Guerra dos Tronos”, afirma Susan. Descreve um cenário em que os empregados se sabotam entre si para subir na carreira, chegando a extremos como esconder informação importante de um executivo para ganhar favores com outro.
Ao site Huffington Post, o fundador e CEO da companhia, Travis Kalanick, garantiu que o descrito no blogue é “abominável e contra tudo aquilo que a Uber defende”. O empresário afirmou que a empresa não compactua com este tipo de práticas e ordenou que se iniciasse uma “investigação urgente sobre estas alegações”.