Futebolista azarado
Nascido na pequena cidade de Hehlrath, na Renânia do Norte-Vestfália, falava-se muito de política na casa do jovem Martin, filho de funcionários públicos. E com debates acalorados. O pai foi um dos fundadores da secção local do SPD, o Partido Social-Democrata. Já a mãe ajudou a criar a delegação da formação rival, a CDU, o partido conservador de Merkel. Mas Martin perseguia então um sonho: ser futebolista profissional. Jogava a defesa central numa equipa semiprofissional da sua região. Uma grave lesão no menisco, porém, esfumaria o sonho. Martin mergulhou na depressão e no álcool, assustou a família. Mas virou a página: “Ou mudava ou estava perdido”, conta.
Livreiro-autarca
Por causa do futebol, secundarizou os estudos. Dedicou-se então a outra paixão: os livros. Tornou-se “aprendiz” de livreiro e abriu depois a sua própria livraria, que manteve durante 12 anos. Militante do SPD desde os 19 anos, com Willy Brandt como referência, chegaria a presidente da Câmara de Würselen, cidade de 38 mil habitantes, perto de Hehlrath. Aos 31 anos, era um dos mais jovens autarcas da Alemanha.
Europeísta com alma
Em julho de 2014, Martin Schulz foi eleito presidente do Parlamento Europeu. E não deixou os seus créditos por mãos alheias: defendeu o reforço do projeto europeu, do euro, do orçamento comunitário; declarou-se contra a austeridade e, nos momentos mais duros da crise grega, deu com firmeza a mão a Atenas. E disse das boas. Por exemplo, classificou Trump como um “problema planetário”. Ou equiparou o atual Governo conservador polaco ao regime russo de Putin.
Desafiante ‘fora da caixa’
António Lobo Antunes disse de Martin Schulz, após um encontro entre os dois, em 2013, na casa do escritor, em Lisboa, isto: “Tem os afetos dentro da inteligência, o que é muito raro.” Bate certo com a definição de um ex-colaborador – Schulz é um “alemão- -mediterrânico”, pelas relações estreitas e amistosas que cria com os interlocutores. Esta facilidade de gerar proximidade pode ser o seu grande trunfo na corrida contra Angela Merkel, como candidato do SPD nas eleições gerais de setembro. O seu maior desafio político chegou-lhe aos 61 anos. E ele desejou-o.