Silicon Valley está prestes a ganhar um “embaixador” de um país europeu. A ideia pioneira vem da Dinamarca: nomear um embaixador digital para estabelecer pontes e acompanhar de perto a agenda das gigantes tecnológicas.
Google, Apple, IBM, and Microsoft “são empresas que influenciam tanto a Dinamarca como outro estados. É uma nova realidade”, explicou o ministro dos Negócios Estrangeiros, em entrevista ao jornal Politiken. Anders Samuelsen assinalou, com base num artigo do Financial Times, que se a Apple ou a Google fossem países podiam classificar-se, pelo seu valor de mercado, para um lugar no fórum G20 (que reúne as vinte maiores economias do mundo). “Estas empresas tornaram-se uma nova espécie de nação”, reforçou.
O “embaixador digital” altera o perfil da actividade diplomática, uma vez que os interlocutores de um estado costumam ser outros países ou organizações internacionais e não entidades privadas. Ao mesmo tempo, permite que as relações entre um estado e empresas estejam isoladas do termómetro político bilateral. Ou seja, em caso de disputa política com Washington, os negócios com as multinacionais de Silicon Valley não seriam contagiados.
“Há entidades com expressão global, cuja importância para um estado pode ser maior que a de muitos países. Não fecharia essa porta”, comenta à VISÃO, Francisco Seixas da Costa, embaixador jubilado. “Tudo depende do modelo institucional para promover essa articulação. Um embaixador não pode ser acreditado na Apple”, frisa.
Copenhaga ainda não esclareceu como vai funcionar o novo modelo, mas exclui a abertura de uma embaixada em Silicon Valley. O mais provável é existir um departamento, com uma equipa de algumas pessoas, sediada na própria Dinamarca.
Cerca de 1% das empresas na Dinamarca são estrangeiras, mas representam 20% dos empregos dinamarqueses, de acordo com o ministro. O Facebook anunciou, na última semana, planos para construir um novo centro de dados em Odense e criar 150 empregos permanentes. Antes tinha sido a Apple, depois de uma negociação de três anos, a avançar com um centro em Viborg.