A campanha presidencial francesa mal arrancou e um dos candidatos ao Eliseu, até aqui favorito num duelo com Marine Le Pen, já tem de responder perante a justiça. François Fillon, da fileira conservadora, está a ser pressionado a explicar o papel profissional da mulher, à qual pagou 600 mil euros com fundos do parlamento francês.
O semanário satírico Le Canard Enchain revelou esta quarta-feira que Penelope Fillon, de origem britânica, recebeu durante dez anos como assistente parlamentar do marido quando este era deputado pela região de Sarthe. A lei francesa permite aos deputados contratar familiares, mas neste caso faltam testemunhas que provem qual o tipo de trabalho ou se foi mesmo feito. Aliás, o jornal insinua que era um emprego falso ou “fantasma” e cita um assistente parlamentar que só conhecia Penelope como “a mulher de um deputado”.
Os relações públicas de Fillon avançaram que não havia nada de ilegal e justificaram a ausência de Penelope do local de trabalho porque preferia trabalhar “nos bastidores”. Numa entrevista ao jornal Le Bien, em outubro passado, deu outra versão. “Até agora, nunca estive envolvida na vida política do meu marido”, disse Penelope, casada desde 1980 com Fillon, de quem tem cinco filhos.
A procuradoria, que entretanto abriu uma investigação preliminar, procura agora esclarecimentos sobre se houve ou não o uso indevido de dinheiros públicos. Este é o primeiro passo para o início de um processo judicial, que a acontecer pode minar as expetativas presidenciais de Fillon – como aconteceu com Nicolas Sarkozy, também do partido os Republicanos, suspeito de financiamento ilegal da campanha presidencial.
Em campanha por Bordeux, Fillon reagiu contra a notícia que classificou de “misógina”, rapidamente disse estar em marcha uma estratégia para o denegrir, mas evitou responder às alegações de se tratar de um emprego fantasma. “Não se pode ser o candidato da honestidade e transparência e não responder”, comentou Manuel Valls, o socialista que ficou em segundo na primeira volta das primárias no passado fim-de-semana. Já Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, disse que não queria “fazer parte da política de bombas de mau cheiro”.