Os primeiros dias de Donald Trump na Casa Branca estão a ser marcados por uma nova polémica com os media. Questionada sobre o que terá sido uma reduzida participação popular nas cerimónias da tomada de posse, ocorrida na sexta-feira, dia 20, a secretária de Imprensa do Presidente, Kellyanne Conway chamou “exagerado” ao jornalista que colocou a questão, apressando-se a desmentir os dados da rede de transportes de Washington, citados pela imprensa, que apontam para a presença de muito menos pessoas do que aquelas que assistiram à primeira nomeação presidencial de Barack Obama, em 2009.
A equipa de Trump assegura que as cerimónias de sexta-feira reuniram “o maior apoio popular de qualquer tomada de posse, tanto no local [onde decorreu] como no resto do mundo [para onde as imagens foram transmitidas]”: E garante que estiveram no local 420 mil pessoas, contra apenas 317 mil que assistiram à primeira posse de Obama. Mas, segundo o Washington Post, os dados da rede de transportes da capital norte-americana indicam que nesse dia andaram de metro 570 557 passageiros, contra 1,1 milhões no dia das cerimónias em 2009 e 782 mil no dia da segunda tomada de posse do anterior Presidente, em 2013.
Os dados sobre a transmissão televisiva estão também a ser contestados: segundo a empresa de estudos de mercado Nielsen, as cerimónias foram vistas por 30,6 milhões de pessoas, menos 7 milhões do que em 2009, tornando-se a quinta mais vista de sempre. Os dados sobre a transmissão pela Internet não foram disponibilizados.
Mas a polémica das primeiras horas do novo Presidente não se esgotou nos números do apoio popular e saltou quase de imediato para a página de Internet da Casa Branca. É que Trump não perdeu tempo a cumprir parte do que tinha prometido durante a campanha eleitoral. Uma das suas primeiras medidas, logo a seguir à tomada de posse, foi o encerramento da versão em espanhol da página de Internet da Casa Branca. Agora, quem tentar aceder à referida página, encontrará a mensagem, escrita em inglês: “Desculpe, a página que procura já não existe”.
A versão em espanhol da página da Casa Branca foi criada pouco depois da chegada ao poder de Barack Obama e, até há poucos dias, alojava um blogue dedicado à comunidade hispânica nos Estados Unidos.
A versão em espanhol da conta da Casa Branca no Twitter está também paralisada, já que não é atualizada com novas mensagens desde 13 de janeiro, apesar de Donald Trump ser um utilizador habitual daquela rede social.
A imprensa internacional salienta ainda que Donal Trump não convidou nenhum hispânico para o seu gabinete, algo que é inédito nos últimos 30 anos nos governos norte-americanos. O jornal espanhol El País recorda mesmo que, durante a campanha, Trump deixou claro que a comunidade latino-americana não era uma prioridade e até diabolizou os emigrantes hispânicos chamando-lhes “bad hombres”.
As seis medidas
Em comunicado divulgado na página de Internet da Casa Branca logo na sexta-feira, quando ainda decorria o desfile presidencial em Washington, o 45º Presidente dos EUA dá conta das suas primeiras seis medidas. Nele, confirma a intenção de romper o acordo de comércio livre conhecido pela sigla TTP (Trans-Pacific Partnership), e avança que em vez disso, pretende fazer acordos bilaterais. O TPP foi assinado a 3 de outubro pelos seus 12 países membros (Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, Canadá, México, Peru, Chile, Japão, Vietname, Malásia, Singapura e Brunei), mas precisa de ser ratificado pelos respetivos parlamentos antes de entrar em vigor.
Algumas destas medidas já tinham sido anunciadas num comunicado na página de Internet da Casa Branca logo na sexta-feira, quando ainda decorria o desfile presidencial em Washington. Entre as seis medidas prioritárias, destaca-se o fim das restrições às energias poluentes e o reforço da produção do petróleo e gás de xisto, assim como a reversão das “políticas desnecessárias e prejudiciais como o plano para o clima e a água” elaborado pelo ex-Presidente Obama. Esse plano, intitulado “Plano de Ação para o Clima”, pretende eliminar as fontes de energia mais poluentes, como as centrais térmicas mais antigas, e modernizar as intraestruturas de produção de energia elétrica de acordo com padrões ambientais mais exigentes.
Mas é na área da Saúde que é tomada a medida mais emblemática. Tal como prometido na campanha eleitoral, Trump deu já o primeiro passo para revogar o programa de acesso aos cuidados de saúde conhecido como Obamacare. No decreto, assinado logo no dia da tomada de posse, Trump proíbe os departamentos de Estado de assumirem mais encargos com o programa, impondo assim um maior controlo financeiro sobre a despesa.
O reforço das Forças Armadas foi outra das medidas anunciadas pelo novo Presidente, que propôs ainda a criação de um Dia Nacional do Patriotismo.