O Parlamento Europeu elege amanhã o seu novo presidente. Com Martin Schulz de saída para a política interna alemã, os eurodeputados terão que encontrar um sucessor. Sem acordo entre as duas principais famílias políticas – o PPE e os socialistas europeus – tudo ficou mais difícil. E o que se adivinha é uma maratona longa de votações, com um resultado que continua incerto.
Candidatos são sete. Tantos quantos as famílias políticas que se sentam no Parlamento Europeu. Eleonora Forenza, da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde. Gianni Pitella, da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas. Antonio Tajani, do Partido Popular Europeu. Helga Stevens, dos Conservadores e Reformistas Europeus. Guy Verhofstadt, da Aliança dos Democratas e Liberais pela Europa. Laurentiu Rebega, dos Conservadores e Reformistas. E Jean Lambere, dos Verdes/Aliança Livre Europeia.
Não têm todos as mesmas hipóteses e os candidatos mais fortes, à partida, são Gianni Pitella, dos socialistas, e António Tajani, do PPE. Mas o Parlamento Europeu, tal como a Europa, está mais vez menos coeso, com cada vez mais movimentos radicais e força para os populistas. E isso deixa toda e qualquer votação na mais pura das incógnitas até ao final. Poderá Verhofstadt capitalizar o voto das famílias menos numerosas e com isso complicar as contas a Pitella e Tajani?
Paulo Rangel, eurodeputado do PPE (eleito pelo PSD), assume que o candidato dos liberais poderia ser “uma surpresa”. Mas acredita que a manobra de apoio tentada com o movimento de Beppe Grilo deixou-o “mal visto” e numa “posição muito complexa”. Há uma semana, o líder do movimento populista 5 Estrelas, que elegeu 17 eurodeputados, anunciou que queria transferir o seu grupo para o ALDE de Verhoftstad, negociando como contrapartida o voto no candidato. Mas o acordo acabaria por ser rompido e Beppe Grilo fez novamente as pazes com o eurocético UKIP de Nigel Farage.
A forma como estes partidos vão votar amanhã é uma das grandes incógnitas e um daqueles que pode desequilibrar as votações.
É por isso que tanto Paulo Rangel, como Carlos Zorrinho, eurodeputado eleito pelo PS, assumem à VISÃO que a primeira ronda será “importante para perceber se cada grupo está coeso no apoio ao seu candidato” ou se há alianças que podem ser exploradas.
“A partir da primeira ronda cada grupo terá que começar a fazer escolhas”, diz Zorrinho, na expetativa de que os socialistas “não tenham que as fazer”. Isso significaria que Pitella irá até à última ronda lado a lado com Tajani.
O novo presidente do Parlamento Europeu só será eleito quando reunir os votos da maioria mais um. Algo que pode só acontecer numa quarta ronda, a única que terá obrigatoriamente apenas os dois candidatos mais votados até ali.
Há ainda uma outra nuance que pode surgir: um novo candidato apresentado a sufrágio durante as rondas de votação. Um cenário possível até à terceira ronda, mas que Rangel descarta: “é altamente improvável. Houve uma tentativa de fazer entrar um candidato do PPE, que não o Tajani, por parte dos Verdes e há o rumor de que eles podem forçar uma situação dessas a meio da votação. Mas acho muito improvável”, diz o eurodeputado.
Ao que tudo indica a luta será então entre dois italianos: Pitella e Tajani. Se Pitella vencer está quebrada a rotatitividade no cargo de presidente do Parlamento Europeu que vinha sendo seguida. Mas, em contrapartida, é mantido um equilíbrio das duas famílias nas várias instituições europeias, uma vez que Pitella é socialista, bem como Frederica Mogherini, a alta representante.
Se Tajani vencer, cumpre-se por um lado essa rotatitividade entre as duas principais famílias no Parlamento Europeu, mas passa a existir um desequilíbrio de forças nas instituições. “Estou convencido que depois para o Conselho Europeu terá que ser encontrado um socialista”, diz Rangel, lembrando que já em 2014 quando se escolheu Donald Tusk (do PPE), Angela Merkel era defensora de que fosse um socialista a ocupar o cargo. Deixar cair Tusk em maio é, por isso, uma das opções em cima da mesa, embora o eurodeputado admita que a União Europeia tem alguma “dificuldade” neste momento em fazer “um frete” à Polónia, que não quer o seu conterrâneo à frente do Conselho, mas que tem tomado medidas de desrespeito pelo Estado de Direito que os tem deixado sob ataque.
Mas os socialistas estão convencidos da vitória de Gianni Pitella. Zorrinho lembra que numa escolha entre candidatos pró-europeus, os eurodeputados terão que decidir entre aquele que quer deixar “tudo na mesma – Tajani” e aquele que “quer mudar – Pitella”.
Nenhum dos eurodeputados acredita que seja possível a eleição de um presidente do Parlamento Europeu por parte dos movimentos anti-Europa. Mas com a força cada vez mais forte destes grupos no seio do Parlamento Europeu e a divisão entre PPE e Socialistas… é melhor esperar para ver.