O maior obstáculo de António Guterres na corrida a Secretário geral da ONU não vem, nesta fase, de Moscovo ou Pequim, mas de Berlim. A diplomacia russa, em entrevista à agência TASS, admitiu que a chanceler alemã sondou o apoio de Moscovo a uma nova candidata búlgara durante a última cimeira do G20 e classificou mesmo de “inaceitável” a tentativa de Angela Merkel de influenciar a decisão. “Merkel recebeu uma resposta clara de que a proposta de candidatura a cargo de Secretário geral da ONU é da exclusiva responsabilidade de um país, e sua decisão soberana, e qualquer tentativa, directa ou indirecta, de influenciar essa decisão é inaceitável”, disse Maria Zakharova, porta-voz do ministério dos Assuntos Externos da Rússia.
Nos últimos dias, a chanceler alemã tem-se multiplicado em contactos para impor um novo nome no processo de candidatura a Secretário geral da ONU mais próximo do perfil inicial: mulher e do leste europeu. Kristalina Georgieva, vice-presidente da Comissão Europeia, é o nome mais falado para surgir na corrida da ONU – uma corrida que após quatro votações tem António Guterres como favorito. A entrada em cena da búlgara obriga Sofia a assumir um novo candidato e a retirar o nome de Irina Bukova, actual directora da Unesco.
Georgieva, cuja candidatura à ONU se deve decidir nas próximas horas, colhe também o apoio em força de Bruxelas. O chefe de gabinete do presidente da Comissão Europeia, Martin Selmayr, quebrou ontem a tradicional neutralidade da instituição num tweet. “Será uma grande perda para a Comissão, mas Kristalina será uma Secretária geral forte e deixará orgulhosos muitos europeus”, escreveu.
Em resposta a Moscovo, Berlim já veio afastar qualquer ingerência da chanceler Merkel no processo. O porta-voz do Ministério dos Assuntos Externos alemão, citado pelo Der Spiegel, acusou de Moscovo de estar veicular informações “objectivamente falsas”.