Viveu num mundo de homens, mas isso não a impediu de ser corretora da bolsa, na segunda metade do século XIX. Victoria Woodhull com apenas 33 anos, candidatou-se à Casa Branca, pelo partido da Igualdade de Direitos. Não ganhou, mas ficou na história como a primeira mulher a tentar chegar aos mais altos desígnios americanos.
Longe de ser uma figura consensual – tanto pregava a racionalidade do voto das mulheres como comunicava com mortos – Victoria estava muito além do seu tempo. Casou-se três vezes e fundou um jornal.
A sua infância foi tudo menos convencional. Quinta de sete filhos, a mãe era médium e o pai caixeiro-viajante de elixires milagrosos e remédios suspeitos. Victoria também seguiu as pisadas da mãe, enquanto vidente, e casou-se, com apenas 15 anos, com um homem também do «ramo» dos elixires.
Vítima de violência doméstica – o marido era alcoólico -, sofria agressões frequentes e um dos dois filhos nasceu com uma deficiência mental.
Em 1864 conseguiu o divórcio e defendeu a liberdade sexual, a poligamia e a legalização da prostituição. Terá sido, no entanto, durante a sua prática de espiritismo que ela e a irmã conheceram um financeiro influente e viúvo. Como prova de reconhecimento por as irmãs o terem posto em contacto com a mulher morta, o viuvo ajudou-as a penetrar no mercado das ações, ensinando-lhes truques e segredos.Nasceu assim, em Wall Street, a primeira agência de corretoras mulheres.
Já casada em segundas núpcias, funda com a irmã o semanário Woodhull and Claflin’s Weekly, em 1870, que defendia as mulheres, a igualdade de oportunidades e o pleno uso dos direitos cívicos – o voto das mulheres só seria aceite nos EUA, em 1920.
Quando, em 1872, o Partido da Igualdade de Direitos (dissidente dos Reformistas Radicais Nacionais ) a nomeou como candidata a presidente dos EUA, Victoria estava presa, e nem terá participado nas suas próprias ações de campanha.
Desgatada na luta das sufragistas, nunca abandonou a causa, mas mudou-se para Inglaterra, onde voltou a casar com um banqueiro. A não ser por momentos ocasionais, a ex-candidata nunca mais regressou aos EUA e morreu em Inglaterra, aos 88 anos.