Fumava drogas, bebia, dançava e saía com várias mulheres. Comia carne de porco. Não cumpria o ramadão nem frequentava mesquitas. Nem sequer rezava. Este é o retrato que Walid Hamou faz do homem que atropelou centenas de pessoas em Nice, “um improvável jihadista”, diz, garantindo que “ele não obedecia aos princípios do Islão” e “não era muçulmano nem religioso”
Hamou é primo da ex-mulher de Mohamed Lahouaiej Bouhlel, o autor do atentado que provocou a morte de 84 pessoas, 10 das quais crianças, na quinta-feira à noite. E é com base em dez anos de convivência que, ao jornal brtitânico Daily Mail, traça o perfil do franco-argelino de 31 anos, cuja mulher entrou há dois anos com um processo de divórcio, alegadamente por violência doméstica – “Ele batia na mulher”, acusa o primo dela.
Este retrato encaixa noutros que têm sido recolhidos junto dos vizinhos de Bouhlel e está em aparente contradição com o facto de o Estado Islâmico ter vindo reclamar para si a autoria do atentado.
A família de Mohamed Lahouaiej Bouhlel não acredita nessa possibilidade, mas sim num descontrolo mental. O pai, Mohamed Mondher Bouhlel, contou à AFP que o filho teve um esgotamento nervoso de 2002 a 2004, antes de emigrar para França, em 2005, tendo o contacto entre ambos sido escasso desde essa altura. Já Rabeb Bouhlel disse à Reuters que o irmão “tinha problemas psicológicos” e revelou ter entregado à polícia “documentos que provam que ele está a ser acompanhado por psicólogos há anos”, disse Rabeb Bouhlel, irmão de Mohamed Lahouaiej Bouhlel.
Para a investigação, é agora importante apurar se Mohamed Lahouaiej Bouhlel foi convertido pelo Daesh em tempos recentes ou se a reivindicação não passou de um aproveitamento mediático. É que, a enquadrar-se na primeira situação, deixaria expostos os serviços secretos franceses, uma vez que nem sequer tinham o homem referenciado como possível suspeito.