O contra-almirante Rob Kramer não tem dúvidas: “Há razões para estarmos realmente preocupados”, afirma o comandante das Forças Marítimas da Holanda. Esta segunda-feira, 9, abriu as portas da base naval de Den Helder a um grupo de jornalistas europeus para lhes explicar qual o contributo da Holanda para o sistema de antimísseis balísticos que a NATO está a desenvolver na Europa e que esta semana vai ter um ponto alto, com a inauguração oficial, na Roménia, de uma base desse escudo cujo objetivo é proteger os Estados-membros da Aliança Atlântica contra mísseis balísticos disparados de um qualquer país a situado para Leste das fronteiras aliadas.
“Estamos preparados para qualquer situação”, afiançará dali a momentos, Frank Lenssen, comandante da fragata de Defesa Antiaérea e de Comando Tromp, um dos navios holandeses envolvidos naquele projeto, que envolve uma sofisticada rede de radares, comunicações por ondas rádio e por satélite capazes de detetar o lançamento de mísseis balísticos disparados contra Estados-membros, de os identificar e de os abater ainda no espaço.
Apesar de na definição de “inimigo” poder caber perfeitamente, a Rússia, no discurso oficial da NATO esta nunca surge, apesar de as relações entre Moscovo a a organização de defesa coletiva do Atlântico Norte estarem mais azedas do que nunca. “A geografia e a física impossibilitam que o sistema da NATO abata os sofisticados mísseis balísticos russos de longo alcance”, lê-se num documento distribuído ao grupo de jornalistas que durante esta semana vão conhecer o sistema.
O problema é que Moscovo, tendo os pilares deste escudo junto às suas fronteiras (na Turquia, Roménia e, a partir, de 2018 na Polónia) sente que esse investimento é dirigido contra si e diz-se diminuída na sua capacidade de dissuasão nuclear. O tom da administração liderada por Vladimir Putine é cada vez mais crispado.
Praticamente à mesma hora em que oficiais da Marinha holandesa “briefavam” os jornalistas, Putin discursava em Moscovo por ocasião da celebração do Dia da Vitória (sobre a Alemanha nazi em 1945). Aproveitando para se dirigir aos russos por “camaradas”. “Os nossos soldados e oficiais provaram que são sucessores dignos dos heróis da Grande Guerra Patriótica e que defendem honradamente os interesses da Rússia”, disse o presidente russo.
Destacou a abertura da Rússia para cooperar com as outras nações no combate à “ameaça global” (o terrorismo) e na criação de um “sistema de segurança global moderno e não alinhado” – que segundo ele está bloqueado devido aos planos de expansão da NATO a leste e aos países bálticos. No seu discurso, que se seguiu a uma parada militar na qual foi exibido o mais recente e sofisticado material de guerra russo, Putin não poupou os ocidentais, em especial, os Estados Unidos. Falou das lições que a história ensina, mas que é preciso ser-se cautelosos por causa das políticas de dois pesos e duas medidas e de vistas curtas”.
O escudo antimíssil que a NATO está a implantar na Europa é, sem dúvida, uma das pedras no sapato do líder russo.
Testado, segundo fontes militares, com sucesso em outubro do ano passado num ensaio em que foi disparado um míssil balístico real, intercetado e destruído, o sistema torna-se formalmente operacional esta quinta-feira, 12, com a inauguração da base em Deveselo, que a VISÃO vai acompanhar. E com o inícios dos trabalhos para o alargar à Polónia, onde deverá ser concluído em 2018.
Mas não tem sido só isto a contribuir para o azedume nas relações entre Moscovo e a NATO, que se têm deteriorado pelo menos desde a intervenção russa na Ucrânia e da anexação da Crimeia.
Além da entrada em funcionamento da defesa antimíssil, vai decorrer ainda esta primavera um importante exercício militar na Polónia e nos países bálticos, em que os EUA vão participar, sendo colocada naquela região uma força de reação rápida com um efetivo de cinco mil militares, alemães, britânicos, franceses e norte-americanos.
Ao mesmo tempo, a NATO está a preparar a sua cimeira bianual que decorrerá, em julhos, na capital polaca, Varsóvia e durante a qual irá seguramente ser debatido o futuro das ralações com a Rússia.