EUA
Mandar nos bastidores
Ao chegar à Casa Branca, em 2009, Obama tinha prioridades definidas: retirar do Afeganistão e do Iraque e manter o país afastado de novas guerras. As revoluções árabes e a intervenção militar na Líbia permitiram-lhe manobrar nos bastidores. No entanto, o atoleiro sírio, com as armas químicas usadas pelo regime de Damasco e a fulgurante ascensão do Daesh, não lhe deram alternativas: nos últimos 18 meses, os caças dos EUA fizeram milhares de bombardeamentos e Washington lidera uma mal amanhada coligação internacional que tem por propósito combater o terrorismo na Síria.
Rússia
Nostalgia de superpotência
Desde os tempos czaristas que Moscovo tem interesses no Levante e no mundo muçulmano, algo que ficou bem patente quando a antiga URSS estabeleceu, em 1971, na cidade síria de Tartus, o seu único porto em águas quentes. A guerra civil na Síria revelou-se uma oportunidade para Vladimir Putin demonstrar ao Ocidente e aos EUA que ainda preside a uma potência global. Depois da anexação da Crimeia, em 2014, o Kremlin ainda demonstrou poder para dar início aos bombardeamentos, em setembro do ano passado, decisivos para Assad se manter no poder e impedir o Daesh de ocupar mais território. Mas colocou o Kremlin em rota de colisão com a Turquia e a coligação internacional liderada pelos EUA.
Turquia
Desafios imperiais
A Turquia diz-se empenhada na luta ao Daesh, mas a sua prioridade é esmagar o Partido da União Democrática (PYD) e o seu braço armado na Síria, o YPG. Ou seja, os guerrilheiros curdos que maior resistência têm oferecido ao autoproclamado Estado Islâmico e que têm recebido apoio logístico dos EUA. E são estes curdos que Ancara promete continuar a bombardear e, se necessário, perseguir em território sírio. Erdogan já responsabilizou Washington pelo “mar de sangue” provocado pelo PYD.
Irão
Eterno retorno
A República Islâmica tem desempenhado um papel fundamental no apoio a Bashar al-Assad. Muito antes da Rússia se envolver na guerra civil síria, Teerão financiava Damasco e sobretudo enviava milhares de guardas da revolução que se revelaram decisivos para travar o Daesh. E mobilizou os combatentes libaneses do Hezbollah, também eles xiitas, para lutarem pelo regime sírio.
Iraque
Alianças de conveniência
Haider al-Abadi, o primeiro-ministro iraquiano, tem de gerir equilíbrios difíceis. Por um lado, tem de agradar aos EUA, integrando a coligação contra o Califado, aliás proclamado no seu território em junho de 2014. Por outro lado, há as fidelidades entre xiitas, que o aproximam do Irão e dos alauítas. Mas os EUA não querem ouvir falar da continuidade de al-Assad.
Arábia Saudita
Megalómanos?
Com a guerra do Iémen já a desgastar os sauditas, a sua anunciada disponibilidade para intervir na Síria, em conjunto com a Turquia, não parece ser passível de concretização imediata. O seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Adel-Al Jubeir, disse já que o início da invasão terrestre será ditado pelos EUA. E o Irão e a Rússia não deixariam de reagir. E não está claro se o reino iria combater Assad, o Daesh ou ambos. Riade é acusada de financiar a frente al-Nusra, com ligações à Al Qaeda
Curdos sírios
Resistir ou morrer
Foram os curdos sírios, com a ajuda dos EUA e dos seus compatriotas iraquianos, que conseguiram parar o rolo compressor do Daesh. São atores independentes, até no sentido de que pretendem ver nascer um Curdistão soberano. Outros grupos, estes sunitas, recebem dinheiro de vários estados do Golfo Pérsico. Alguns são tidos como “moderados”, outros partilham largamente a interpretação religiosa radical do Daesh.
Daesh
A resistência do terror
Sob pressão dos bombardeamentos russos na Síria e das incursões de Bagdade no Norte do Iraque, cerca de 6500 veteranos do Califado já se transferiram para a Líbia, onde contam fazer nascer uma nova plataforma de tráfico de armas, pessoas, petróleo e antiguidades.
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