Os sinos da catedral Notre-Dame tocaram a finados ao meio-dia de domingo e o toque lancinante reverberou nas ruas desertas até ao rio Sena e no coração de todos os parisienses, de luto pelos 129 mortos dos ataques sem precedentes que Paris sofreu a 13.11.
Desde sábado de manhã, os habitantes da capital vão até à Praça da República recolher-se junto ao pedestal da imponente estátua de Marianne (símbolo republicano francês). Trazem flores, um brinquedo de pelúcia, velas, mensagens de simpatia e de coragem escritas numa folha A4: “Não temos medo”, “Não nos farão vergar”. De vez em quando, a polícia pede às pessoas para se retirarem, recordando que por medida de segurança todas as manifestações estão proibidas na região parisiense até quinta-feira.
Seguem para uns 800 metros da dali, até à rue Bichat, onde ocorreu o primeiro ataque de kalachnikov sexta-feira, eram 21h25, contra a esplanada do restaurante Carrillon. Recolhem-se alguns instantes perante o local, coberto com um tapete de velas e flores que aumenta de hora para hora. O atacante só teve de se voltar e dar alguns passos para varrer com rajadas de AK47 a esplanada do restaurante situado no outro lado da rua, Le Petit Cambodge, também atapetado agora de flores e velas. 18 mortos e inúmeros feridos. Uma jovem esconde a cara no ombro do namorado, que a abraça e reconforta. “Com os meus amigos vimos aqui jantar ou beber um copo com frequência. Sexta-feira tinha uma festa, senão tinha vindo aqui” explica Carine, uma estudante de 21 anos que acaba de depor duas rosas brancas no Carrillon.
A uns 300 metros do local, a caminho da Praça da República, outro alvo dos ataques, às 21h32 : a pizzaria Casa Nostra, na rua Fontaine au Roi. Cinco mortos e muitos feridos. O ambiente é mais pesado. Há ainda a areia a cobrir manchas de sangue. Habitantes do bairro acenderam inúmeros paus de incenso, o ar está por vezes irrespirável com o fumo. “É para mascarar o cheiro a sangue” explica uma senhora idosa que vive não muito longe dali. Sexta-feira à noite estava com o filho e os netos, em casa deles, noutro bairro: “Passei a noite em casa deles, mas não consegui dormir”.
Um pouco mais à frente, a lavandaria Lavomatic está ainda devastada pelos tiros, a fachada rebentada, estilhaços de vidro no chão. Ninguém entra.
No passeio, a uns três metros, ao pé de uma árvore, alguém delimitou um espaço no chão com a fita branca e vermelha da polícia.
Colada no chão com fita-cola, no meio deste espaço, uma folha de papel branco, escrita à mão: “Uma pessoa morreu aqui. Por favor respeite este espaço”. Algumas velas e folhas de hera trepadeira são os primeiros tributos. Mais tarde, uma pessoa coloca lá um vaso de crisântemos. Outra traz um vaso de dálias.