“Procuramos a nossa amiga, ela estava no Bataclan”. “Sem notícias do nosso filho. Alguém o viu?”. Há quem reconheça um rosto procurado numa foto de imprensa: “Está viva. Nesta foto: a receber tratamento”. Outra busca, de uma senhora ruiva. Resposta: “Vi uma ruiva que corresponde à descrição perto do Bataclan. Viva, ia de maca”. Outra resposta, pouco depois: “Há outra mulher ruiva, também viva, a receber tratamento no bd, Voltaire”.
Sábado, havia já algumas mensagens de alegria: “A Gaëlle está num hospital, vai ficar bem”. “Encontrei o meu namorado! Graças aos RT de vocês todos. Nunca poderei agradecer-vos que chegue”. Mas, à medida que o tempo passa, #rechercheParis tem-se transformado em obituário: “Acabo de receber confirmação de que Lola Salines faleceu. Obrigado a todos quantos que me ajudaram a procurá-la”, escreve o pai, George Salines, numa mensagem a encabeçar uma foto da filha, jovem, cabelo loiro comprido, olhar azul sorridente e confiante. Outra foto, de um jovem, corte de cabelo e óculos à moda, e por debaixo: #RIP [rest in peace] Quentin Mourier (1986-2015).
Este domingo foi instalada uma unidade de crise para o acolhimento das famílias e chegados dentro da Escola Militar, no centro de Paris, logo visitada pelo primeiro-ministro, Manuel Valls, vindo consolar as famílias. Sábado, parentes e amigos faziam a ronda dos hospitais à procura dos seus, de quem não tinham notícias desde 13.11 à noite. Encontrámos vários grupos à porta do Hospital Saint-Antoine, em Paris, desamparados. Três motards, dois homens e uma mulher, preparavam-se para entrar, com alguma apreensão. Procuravam o irmão de um deles, que tinha ido ao concerto do Eagle of Death Metal no Bataclan e de quem não tinham notícias: “Já estivemos em dois hospitais. Ninguém sabe de nada”.
Há quem se insurja contra o facto da identificação não ter sido feito em menos de 24 horas. Um médico que trabalha na sala de emergência, Patrick Pelloux, avançou algumas explicações na rádio France-Inter: “Tratámos todos feridos sem perder tempo a identificá-los. Era o mais urgente. E havia imenso que fazer. Só depois começou o trabalho administrativo de identificação”. O que o médico não diz – ele, que era um dos cronistas do jornal Charlie Hebdo que só escapou ao massacre da redação, a 7 de janeiro, porque vinha atrasado do hospital– é que numa situação destas as pessoas perdem malas e casacos com documentos, roupa e até sapatos. Muitos cadáveres estavam irreconhecíveis, esfacelados ou espezinhados. Muitos dos 99 feridos em estado grave têm ferimentos que os tornam também irreconhecíveis. Acresce que sem telemóvel, muitas pessoas ficam perdidas, não conhecendo nenhum número de telefone de cor. Domingo ao meio-dia já tinham sido identificadas 123 pessoas mortas.
A Facebook participou também nas buscas. Desde sexta-feira à noite, enviou uma mensagem aos seus membros parisienses: “Está em segurança?”. Quando lhe respondiam, a Facebook prevenia imediatamente os amigos desse membro.