Publicar ou não uma imagem de uma criança morta é um exercício discutível, que põe em causa os princípios deontológicos dos media. Mas a fotografia de Aylan Kurdi encontrado morto à beira mar na Turquia tornou-se viral também nas primeiras páginas dos jornais por todo o mundo. Pela carga emocional que acarreta, tornou-se símbolo de um movimento de migração de refugiados que assumiu proporções incontroláveis, às quais é impossível continuar a responder da forma como a Europa tem feito até agora.
No passado, outras imagens também se tornaram símbolos de conflitos e tragédias humanitárias, e as crianças foram protagonistas principais. Talvez por serem as vítimas mais inocentes de um estado de coisas para o qual não contribuíram, personalizam o maior e mais doloroso dos sofrimentos humanos ao qual é impossível ficar indiferente. Recordamos quatro:
Xangai, Agosto de 1937
A imagem de um bebé a chorar entre os destroços na cidade chinesa de Xangai depois de um ataque aéreo japonês foi vista por milhões de pessoas depois de aparecer na revista Life em Outubro seguinte. Mais tarde surgiram imagens do pai a colocar a criança naquele sítio, surgindo a tese de que a situação tinha sido encenada por H.S. Wong para dar dramatismo ao acontecimento.
Hiroshima, Agosto de 1945Depois dos bombardeamentos de Hiroshima, um fotógrafo captou a imagem de um bebé agachado a chorar entre os destroços. A imagem emocionante correu o mundo e ajudou a mobilizar a opinião pública contra o sacrifício de civis.
Vietname, Junho de 1972
A imagem da menina que corria despida depois de um ataque de napalm por parte das tropas norte-americanas é o retrato do sofrimento de um povo durante a guerra do Vietname. Kim Phuc era uma menina de 9 anos a fugir desesperada quando Nick Ut da Associated Press imortalizou o momento, o que lhe valeu um prémio Pulitzer.
Sudão, Março de 1993
Kevin Carter foi o autor da imagem impressionante que mostrava um abutre que se preparava para atacar uma criança sudanesa desnutrida e em agonia. O frame icónico publicado no New York Times valeu-lhe um Pulitzer, mas o fotógrafo sul-africano viria suicidar-se em 2011, carregando consigo o peso de não ter feito mais para ajudar a menina. Confessou ais tarde quando recebeu o prémio que aguardou 20 minutes até disparar, esperando que o abutre abrisse as asas, e que viveu para sempre com esse arrependimento.