Katsura tem 84 anos e é um sobrevivente da bomba atómica de Nagasaki. Recorda o inferno que foi a sua caminhada de 20 quilómetros até casa após a explosão. “A “chuva negra” de partículas radioativas caia e ele sentiu-se doente dias depois.”
A maioria dos sobreviventes vivem ainda em Hiroshima e Nagasaki. Katsura diz que apenas cerca de 20 sobreviventes vivem em Kunitachi, mas apenas alguns, incluindo ele próprio, estão saudáveis o suficiente para aparecer em público.
Num programa do governo organizado na cidade de Kunitachi, 20 aprendizes entre os 20 e os 70 anos estudam a História e ouvem as histórias de quem sobreviveu à Hiroshima. O objetivo é andar “para trás” nesta era digital, aprendendo através do contacto “cara a cara” com os mais velhos, como forma de manter a tradição de contar histórias viva e retransmitindo-a.
A bomba atómica explodiu em Hiroshima a 6 de Agosto de 1945 resultando na morte de 140 mil pessoas por ferimentos e efeitos imediatos de radiação no espaço de cinco meses. Três dias depois, outra caiu em Nagasaki vitimando mais de 73 mil.
De acordo com as últimas estatísticas do governo, o número atual de sobreviventes ronda os 200 mil.
“Passaram-se 70 anos desde as bombas, e os sobreviventes estão a ficar velhos. O tempo é limitado e temos que nos despachar,” diz à Associated Press Terumi Tanaka, 83 anos, diretor do grupo Japan Confederation of A and H Bomb Sufferers’ Organization.
As mesmas histórias podem estar em formato de vídeo e texto na internet, mas os organizadores sentem que histórias contadas presencialmente adicionam um toque humano insubstituível.
Tanaka, um professor engenheiro reformado, sobreviveu a Nagasaki, mas perdeu cinco membros da sua família quando tinha 13 anos. Tanaka considera quase impossível os contadores de histórias descreverem os horrores tão vividamente como os sobreviventes, mas espera que a sua imaginação, compaixão e compromisso com a paz compensem qualquer falha.
Mika Shimizu, uma professora do secundário de 32 anos, espera fazer isso pondo a experiência dos sobreviventes num linguagem que os seus alunos consigam identificar-se. “Mesmo se ouvirmos a mesma história, a maneira como cada uma de nós a reconta será diferente, porque todos temos sensibilidades diferentes,” diz a professora.
“Tendo testemunhado o que uma arma nuclear pode fazer ao ser humano, devo condená-o como absolutamente errado e o erro nunca mais deveria nunca ser repetido”, afirma Katsura. “Isto é o que me faz querer contar a minha história, e continuarei a conta-la até ao fim dos meus dias.”
Kunitachi, outro sobrevivente, diz que contar histórias requer uma profunda compreensão da contextualização histórica e das emoções dos sobreviventes, paralelamente ao toque de personalidade do contador. Isto é o que o diferencia de arquivos digitais. “Penso que as histórias são melhor transmitidas quando contadas por pessoas reais,” diz. “Espero que os estagiários absorvam totalmente a experiência e sentimentos dos sobreviventes, para que possam contar a história usando as suas próprias sensibilidades.”