Numa semana em que a Alemanha se confrontou com críticas internacionais pela rigidez das suas atitudes em relação à endividada Grécia, Merkel foi também acusada de frieza, enquanto outros avançavam em sua defesa.
A chefe do executivo alemão encontrava-se num debate público com adolescentes, na cidade de Rostock, no norte do país, no âmbito de uma iniciativa governamental intitulada “Viver Bem na Alemanha”.
Como se vê no vídeo transmitido pela televisão pública, a menina palestiniana, chamada Reem, disse a Merkel que a sua família tinha sido informada de que teria em breve de regressar a um campo de refugiados no Líbano só para poder receber um visto de residência temporária na Alemanha.
“Eu queria ir para a universidade”, disse Reem, que passou os últimos quatro anos a requerer asilo na Alemanha, em alemão fluente.
“É realmente muito difícil ver como as outras pessoas podem aproveitar a vida e nós não. Não sei o que o futuro me trará”, comentou Reem.
Merkel expressou solidariedade antes de defender as políticas de asilo do seu Governo.
“A política pode ser dura”, afirmou. “Tu podes ser uma pessoa extremamente boa, mas também sabes que há milhares e milhares de pessoas em campos de refugiados palestinianos no Líbano”, prosseguiu.
A chanceler alemã acrescentou ainda que a Alemanha não poderia suportar o fardo de acolher todas as pessoas que, fugindo à guerra e à pobreza, gostariam de se mudar para a maior economia da Europa em busca de uma vida melhor. “Não conseguiríamos aguentar”, observou. “Algumas pessoas vão ter de voltar”, concluiu, antes de notar que Reem estava a chorar.
“Mas saíste-te muito bem”, disse Merkel, fazendo-lhe uma festa.
O moderador interveio: “Não penso, senhora chanceler, que seja uma questão de se sair bem, mas antes de uma situação muito difícil”.
“Eu sei que é uma situação difícil – foi por isso que quis fazer-lhe uma festa”, disse Merkel, acrescentando que o que quis transmitir à menina foi que realmente, a sua situação é difícil, mas que descreveu muito bem a situação de muitas, muitas pessoas.
A primeira-ministra alemã não projeta a imagem de uma pessoa de trato fácil, mas após quase dez anos no poder, ainda goza de um impressionante nível de popularidade, de cerca de 70%.
Contudo, o vídeo provocou uma forte reação, com os seus críticos dizendo que falta à líder alemã empatia.
No Twitter, na Alemanha, o tema mais popular foi #Merkelstreichelt (as festas de Merkel).
“Se tem o problema de achar Merkel demasiado simpática, veja este vídeo e preste atenção ao final”, escreveu a blogger Sascha Lobo.
“Esta semana tem sido fantástica para a diplomacia pública alemã. O que faltava era a Merkel fazer uma criança refugiada chorar”, ‘tweetou’ o escritor de origem bielorrussa Evgeny Morozov.
No entanto, Merkel também teve defensores.
“Ela foi honesta e claramente nada fria”, disse a jornalista de esquerda Ines Pohl.
Pohl disse que teria sido mais cruel fazer falsas promessas à menina ou fugir à pergunta e observou que até a maioria dos alemães começar a apoiar políticas de asilo bastante mais liberais, as mãos de Merkel estão atadas.
A Alemanha acolheu 200.000 requerentes de asilo no ano passado e espera até 450.000 este ano.