Purgas, decapitações, massacres. O autoproclamado Estado Islâmico (EI) continua a sua marcha do terror sem que ninguém lhe consiga fazer frente. Apesar da suposta coligação militar liderada pelos EUA e dos mais de 5 mil bombardeamentos contra alvos jihadistas nos últimos 10 meses, o Califado não para de alargar influência e território. Controla já metade da Síria e a maior das províncias do Iraque, Al Anbar, qualquer coisa como 200 mil quilómetros quadrados onde residem perto de cinco milhões de pessoas. Ou seja, os fundamentalistas liderados pelo califa Abu Bakr al-Bagdadi somam vitórias frente aos exércitos de Damasco e de Bagdade e dos respetivos aliados. Só na última semana, além dos atentados levados a cabo em nome do EI na Arábia Saudita e no Iémen, o grupo apoderou-se da estratégica cidade iraquiana de Ramadi e dos postos fronteiriços de al Tanf/al Waleed, passando a controlar todas as estradas que ligam o Iraque e a Síria. Neste momento, o regime sírio do Presidente Bashar al-Assad já só exerce a sua autoridade em cinco dos 19 pontos de passagem para os outros países limítrofes (Líbano, Jordânia e Turquia).
No entanto, a mais simbólica das conquistas do grupo terrorista ocorreu a 20 de maio. Palmira, a Veneza das Areias, a pérola do deserto, mítica capital da rainha Zenobia também chamada a Cleópatra da Síria ficou à mercê do Estado Islâmico. Os cerca de 50 mil habitantes da atual cidade, Tadmor, com mais de quatro mil anos de história, têm agora de sujeitar-se à vontade e às regras dos salafistas. E quem não obedecer será devidamente punido pela hisba, a polícia que zela pelo cumprimento integral da sharia (a lei islâmica). Os relatos dos seus primeiros dias de atividade foram esclarecedores: 217 execuções segundo as contas do Observatório Sírio para os Direitos Humanos, organização com sede em Londres, ou 400, de acordo com a televisão pública síria, “na sua maioria mulheres e crianças”. Um número que tende obviamente a subir. A que deverá somar-se um outro alvo: as ruínas da cidade, consideradas pela UNESCO Património da Humanidade. Em causa está o seu passado pré-islâmico que, por isso mesmo, deverá ser arrasado por simbolizar a idade da ignorância. O mesmo é dizer que a velha babel povoada por egípcios, persas, indianos, gregos, romanos um oásis cosmopolita onde se cruzavam as caravanas que ligavam o Mediterrâneo ao oceano Índico pode ter os dias contados. O Governo sírio diz que em Palmira se joga a “batalha do mundo”. A diretora da UNESCO e as autoridades da universidade de Al-Azhar, no Cairo, falam em “batalha para toda a Humanidade”.