A 9 de agosto de 1974, num simbólico ato de despedida, Richard Nixon fazia história ao acenar aos americanos. Entrava no helicóptero, descolava dos jardins da Casa Branca e rumava à “Casa Pacífica”, a mansão que possuía em San Clemente, na sua Califórnia natal. Tornava-se então no primeiro e único Presidente dos EUA a demitir-se do cargo, para não se sujeitar a um humilhante processo de destituição. As escutas a opositores, os esquemas de corrupção, a obstrução à justiça e as campanhas de desinformação fizeram com que o caso Watergate ainda seja o pior escândalo político da América ao qual é preciso somar todas as mentiras e traumas relacionados com a guerra do Vietname.
No entanto, o tempo e a história parecem estar a favor daquele que foi o 37.º Presidente. Poucos duvidam da sua responsabilidade no assalto ao edifício de Washington que daria nome ao caso e que constituiria um exemplo do poder da imprensa, graças ao Washington Post e a dois dos seus repórteres, Carl Bernstein e Bob Woodward. Tal como sucede com a maioria dos governantes, Nixon tentou que o julgamento final dos seus compatriotas sobre si próprio não fosse demasiado severo.
Quer na famosa entrevista que concedeu ao britânico David Frost quer nas conversas que teve, em 1983, com um dos seus colaboradores, Frank Gannon, e só agora reveladas, jamais faz qualquer ato de contrição. Ou não fosse ele uma personalidade que disfarçava as suas inseguranças com arrogância e total indisponibilidade para admitir erros. A sua estratégia parece agora dar resultados.
Até falecer, em 1994, a maioria dos americanos mostrava-se implacável com o seu desempenho. Em 1998, 23% ainda o consideravam o pior Presidente desde a Segunda Guerra. Hoje, 33% dos inquiridos no mais recente estudo da Universidade de Quinnipiac, no Connecticut, atribuem esse título a Barack Obama, seguido de perto por George W. Bush. Nixon já só ocupa o terceiro lugar do pódio com 13%.