Para quem achasse que os debates para as próximas Eleições Europeias estavam a ser entediantes, o quarto confronto esteve, ao arrepio dos anteriores, carregado de novidades: o Chega a queixar-se de ser vítima do discurso de ódio, o PAN a defender uma indústria militar europeia e o PCP a não acreditar num plano de Vladimir Putin para controlar a Europa.
Foram estes, em resumo, os principais pontos do confronto entre João Cotrim Figueiredo (Iniciativa Liberal); João Oliveira (PCP), António Tânger Correia (Chega) e Pedro Fidalgo Marques (PAN) na SIC. Este último, aliás, protagonizou uma das supresas da noite, ao afirmar que, no que diz respeito à guerra na Ucrânia, o seu partido, pacifista por natureza, tem uma visão “pragmática e objetiva”, colocando-se inteiramente ao lado dos ucranianos e defendendo um investimento na indústria militar europeia, como forma de resposta ao presidente russo.
“Os lucros” desta atividade, sublinhou o candidato do PAN, seriam posteriormente investidos na transição energética. A posição de Pedro Fidalgo Marques acabou por surpreender João Oliveira, que o aconselhou, em vez de potenciar a guerra, a “colocar cravos vermelhos nas espingardas”, numa referência histórica ao 25 de Abril.
Ao mesmo tempo, o candidato da CDU disse não acreditar num plano de Vladimir Putin, caso vença a guerra na Ucrânia, para dominar a Europa: “Aceito tanto esse planos da Rússia como as armas de destruição massiva no Iraque”, declarou, acenando com um tratado subscrito por Portugal, que apela à paz.
Este movimento de João Oliveira levou Cotrim Figueiredo a interrompê-lo e aconselhar o comunista a “levar as fotocópias” para a Ucrância. O cabeça de lista da Iniciativa Liberal acabaria por ser o mais claro do debate nesta matéria, ao defender a necessidade dos países ocidentais em investirem na Defesa: “Enquanto houver tiranos e tiranetes, o mundo democrático e livre tem a obrigação de se defender”, disse.
Por sua vez, António Tânger Correia garantiu que o seu partido – apesar de integrar o grupo Identidade e Democracia no Parlamento Europeu, mais próximo de Putin – continuará a estar ao lado dos ucranianos.
Antes deste tema, os candidatos abordaram a desinformação e o discurso de ódio. Ora, nesta matéria, Tânger Correia aproveitou para se vitimizar, dizendo que o seu partido, o Chega, é que é alvo de “discursos de ódio”. “Tudo o que o Chega diz, é mau”, anotou.
Afirmando que a liberdade de expressão “não tem limites – “ou há ou não há” – o cabeça de lista do partido de André Ventura disse ainda que o seu partido luta por uma democracia, na qual impera a vontade da “maioria”. “Respeitamos as minorias, mas estas não podem desrespeitar as maiorias”, explicou, descrevendo o “wokismo” e a “ideologia do género” como “elementos destruidores da sociedade”.
Já Cotrim Figueiredo pronunciou-se contra uma eventual “censura” ao discurso dos políticos e outros agentes. “É muito tentador tentar matar este risco, mas isto pode criar um problema ainda maior”. Para o candidato da IL, as “democracias devem evitar cair no engodo” da desinformação, porque isto leva-as a que se tornem, elas próprias, iliberais.
Enquanto Pedro Fidalgo Marques apontou baterias à extrema-direita, como difusora de discursos de ódio e desinformação, João Oliveira preferiu colocar “todas as fichas” no investimento na Educação e Cultura das pessoas. Só assim, disse, serão “capazes de se defender” da desinformação.
O próximo debate decorre já esta terça-feira e juntará Marta Temido (PS), Sebastião Bugalho (AD), António Tânger-Corrêa (Chega) e João Oliveira (CDU) na RTP.