O ouro alcançou um valor recorde na última semana, subindo até aos 3 500,5 dólares por onça, mas a guerra comercial e os avanços e recuos das decisões de Donald Trump têm provocado uma verdadeira montanha-russa no preço deste metal precioso que, regra geral, é utilizado pelos investidores como um ativo de refúgio sempre que existe instabilidade económica ou política.
Na passada segunda-feira, a cotação da onça do ouro voltou a cair 1,1%, mas, apesar desta descida, ainda consegue manter uma valorização de 43,42% em relação a abril do ano passado e um aumento de 26,14% desde o início deste ano.
O pico do preço do ouro deu-se logo após o ataque de Donald Trump a Jerome Powell, presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed), por este não ter manifestado qualquer intenção de reduzir as taxas de juro nos EUA.
Na sua plataforma, a Truth Social, Trump escreveu que existia muita gente a defender “cortes preventivos” das taxas de juro por os preços dos bens e da energia no país “estarem em queda”. Alegou ainda que “praticamente não há inflação” e terminou a sua mensagem apelidando Jerome Powell de “sr. Tarde Demais, um grande falhado”.
A tentativa de interferência do Presidente americano no organismo responsável pela política monetária do país provocou uma queda imediata do dólar, bem como da bolsa norte-americana, com os principais índices a perderem cerca de 2,5% do seu valor em apenas um dia.
Confrontado com a reação dos mercados, Trump teve de recuar e acabou por vir a público dizer que “não tinha intenção” de demitir Powell. Uma declaração suficiente para que o mundo financeiro voltasse a acalmar. A bolsa e o dólar recuperaram parte do seu valor e o ouro desvalorizou-se.
Jerome Powell foi nomeado presidente da Fed em 2018, tendo sido escolhido pelo próprio Donald Trump no seu primeiro mandato. Mas, apesar de ser uma escolha política, este é um cargo independente e do qual apenas se pode ser demitido por justa causa.
Antes desse episódio, o ouro já estava em forte ascensão devido à guerra comercial gerada pela imposição de tarifas às importações da grande maioria dos países. A escalada das tensões comerciais entre os EUA e a China, com ambos os lados a subirem as tarifas alfandegárias para valores fora do normal, contribuiu ainda mais para a valorização deste metal precioso. Sempre que um dos lados anunciava o aumento das tarifas, o preço do ouro subia.
Assim que Donald Trump comunicou a existência de contactos negociais entre os dois países, o valor da onça baixou. Na passada sexta-feira, o executivo de Xi Jinping decidiu atenuar as tarifas de alguns bens importados dos EUA. Contudo, rejeitou a alegação do Presidente Trump de que novas negociações comerciais estavam em andamento.
As mensagens diferentes de ambas as partes voltaram a provocar uma enorme volatilidade nas cotações do metal.
A incerteza é o pior receio dos investidores e, na opinião de Fawad Razaqzada, analista de mercado da City Index, em declarações à Reuters, “enquanto não existirem acordos comerciais firmes e estabelecidos em vez de algazarra política por parte do governo de Trump, não podemos descartar a possibilidade de o ouro continuar a subir”. E, segundo a bolsa de especialistas da Reuters, o risco de a economia global entrar em recessão este ano é ainda muito elevado, o que faz do ouro um ativo ainda mais atrativo.
Por essa razão, esta será uma semana muito importante em termos de decisões dos investidores, uma vez que serão divulgados vários indicadores fundamentais da economia americana, como o relatório da evolução do emprego, os dados do consumo privado e a folha de pagamentos agrícolas. Segundo os especialistas, estes indicadores poderão dar alguma informação mais acertada sobre o impacto que as tarifas estão a ter na economia dos Estados Unidos.
Mas não são apenas as tensões comerciais do mundo que podem influenciar o preço futuro do ouro. Segundo os especialistas, apesar de existir oferta de ouro nos mercados internacionais, estamos a assistir a um claro envelhecimento das minas atuais, bem como a uma deterioração da qualidade deste minério, o que obriga a maiores custos de extração.
Por fim, nos últimos três anos, os bancos centrais de quase todo o mundo têm vindo a reforçar fortemente as suas reservas de ouro. Em 2022, ano em que a Rússia invadiu a Ucrânia, a compra de ouro por parte das autoridades monetárias mundiais ascendeu a 1 082 toneladas, o que constituiu um novo recorde.
No ano seguinte, os bancos centrais voltaram a comprar mais de mil toneladas e, em 2024, as aquisições foram de 694 toneladas. Em apenas três anos, os bancos centrais compraram mais ouro do que a soma de toda a década de 2010 a 2020, provocando uma maior pressão sobre a procura.
Segundo um inquérito realizado pelo World Gold Council em 2024, cerca de 29% dos bancos centrais admitiram que iriam reforçar as suas reservas de ouro ao longo dos próximos 12 meses. “Esta foi a mais elevada intenção de compra registada desde que este estudo é feito”, refere o documento. O mesmo estudo adianta que esta decisão é motivada pela intenção dos bancos centrais de reequilibrarem as reservas de ouro para “um nível estratégico mais adequado” e pelas preocupações sobre o futuro dos mercados financeiros, nomeadamente devido aos “riscos de crise” na economia mundial e ao potencial “crescimento da inflação”.
Metais preciosos em alta
Não é só o ouro que tem vindo a registar ganhos ao longo deste ano. A prata e a platina também estão com elevada procura e mantêm cotações a subir ao longo dos últimos dias
Ouro oscila
Atingiu o valor recorde na passada semana, com a onça a subir até aos 3 500,5 dólares. Contudo, o preço tem vindo a baixar nos últimos dias. Mesmo assim, este metal precioso ainda consegue uma valorização de 26,14% desde o início do ano.
Prata em alta
Este metal precioso tem estado em alta nos últimos quatro anos e os analistas preveem que possa manter esta tendência porque a procura de prata tem sido superior à oferta existente. Desde o início do ano, a subida foi de 15,43%.
Platina em espera
O preço da platina tem vindo a subir ligeiramente, com um aumento de 10,47% desde o início do ano, mas os stocks existentes (já extraídos), apenas conseguem abastecer 15 meses da procura, o que faz prever uma forte margem de progressão dos preços.
