Apenas pela segunda vez em democracia, as receitas públicas superam as despesas e o saldo orçamental volta a ser positivo, devendo terminar o ano em 0,8% do produto interno bruto (PIB). Com eleições em março, ainda é cedo para dizer se este legado de António Costa será para manter ou se foi apenas um ciclo passageiro. Mas ficará para a História como um marco de 2023.
Este excedente orçamental consegue a proeza de ser, ao mesmo tempo, surpreendente e expectável. Surpreendente, porque fica muito acima do orçamentado (-0,9%) e até do valor revisto em abril (-0,4%), sendo alcançado num ano em que os portugueses ainda enfrentaram perdas de poder de compra assinaláveis, resultado da inflação e do agravamento das prestações de crédito à habitação. O Governo foi criando ou ampliando apoios, mas sem dimensão suficiente para escudar totalmente as famílias destes efeitos.